Os ventos voltam a soprar em Suape. Saberemos navegar?

Por

Jairo Lima*

Em 11.01.2022

“Jamais haverá ano novo se continuar

 a copiar os erros dos anos velhos.”

Luís de Camões

Iniciamos 2022 com ventos soprando notícias alvissareiras: Suape vai gerar mais de 27 mil novos empregos nos próximos meses, com a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima pelo Governo Federal, a volta dos estaleiros e a instalação de novos empreendimentos, trazendo de volta a situação de quase pleno emprego em Pernambuco, justamente no momento que o nosso estado, segundo a PNAD Contínua do IBGE, amarga a primeira posição nacional de desemprego.

Não há notícia melhor para a nossa cidade neste momento. O Cabo, assim como Ipojuca, serão os dois municípios diretamente mais impactados. Mas, é a propósito destes impactos que chamamos a atenção de todos.

Quando se fala em impactos, a geração de empregos não representa apenas novos postos de trabalho. Há toda uma cadeia produtiva que é acionada e que por si causa também uma carga social pesada nas cidades mais próximas, como citamos, Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca.

Aluguéis sobem, aumenta a procura no transporte coletivo, assim como a aumenta a demanda no transporte individual. Nos serviços públicos básicos a pressão é forte, a violência cresce, e por aí vai….

Acontece que agora, como no passado, não será surpresa. Há tempo suficiente para que essas cidades se planejem e não fiquem apenas a verem, literalmente, navios. O Cabo de Santo Agostinho em particular, até hoje paga um preço muito alto porque apenas ficou como um torcedor de camarote, assistindo ser agitada, explorada, favelizada, violentada e abarrotada de gente…Penando na violência, na perda da identidade cultural e das oportunidades turísticas e até mesmo econômicas. Ou seja, qualidade de vida, nenhuma, continuando a ser o que sempre foi, uma cidade dormitório.

Que acordemos todos nós, poderes públicos e privados de ambas cidades, entidades classistas, comunitárias e segmentadas, comunicadores, artistas. O Cabo é de todos nós, temos a responsabilidade de colocar nossa cidade no verdadeiro trilho do desenvolvimento, sob pena de tão somente incharmos novamente pelo vil insano crescimento que segue costumeiramente na cartilha da insustentabilidade. Não custa lembrar que após um boom de crescimento econômico, vem logo em seguida outro equivalente de depressão. Já vimos esse filme antes!

O Cabo de Santo Agostinho não aguenta no intervalo de uma década, duas bombas atômicas. O desenvolvimento é bom, imprescindível e irrefreável. Entretanto, não pode haver quaisquer descuidos e desatenções. Planejamento é ferramenta gratuita, necessária e disponível para todos nós. Vamos ao progresso, mas com sucesso!

*Jairo Lima é artista plástico, poeta e membro da Academia Cabense de Letras.