Pelo menos, por fora
Jénerson Alves*
Em 26.08.2022
Meus olhos passeiam pela cidade. Vejo tudo. Crianças, adultos, homens, mulheres. Idosos sentados nos bancos das praças. O movimento revela que tudo está vivo. A letargia em meu coração torna tudo meio morto. O sol nasce – pelo menos, por fora. Aqui dentro, há uma certa e constante escuridão…
Meus ouvidos captam os sons. Barulhos, buzinas, motores. As músicas nas casas revelam que há vida, que há alegria, que há celebrações. O silêncio em meu espírito indica que há um vazio, e não vejo nada o que comemorar. Há uma orquestra – pelo menos, por fora. Aqui dentro, um turbilhão de vozes confusas e dissonantes…
Meus lábios falam amenidades. Amigos, parentes, vizinhos, colegas. Tanta gente me ouve, como se eu tivesse algo a falar, algo a explanar, algo a externar… Entretanto, há um vão em tais colóquios. Digo, mas não falo. Balbucio, mas não expresso. Há uma dor que é só minha, e que a guardo a sete chaves em meu interior.
Meu corpo transita pelo mundo. Cumpro minhas atividades. Bato ponto. Pego ônibus. Vou ao templo. Tudo certo. Pelo menos, por fora. É que aqui dentro habita uma falta, uma lacuna, uma ausência, um vazio… é Você que falta aqui dentro. É por isso que me falto também por fora. Como preciso reencontrar Você! Como preciso me reencontrar…
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
Imagem: “Impressão, Nascer do Sol”, de Claude Monet