Mestre Ambrósio e Cordel do Fogo Encantado
Enildo Luiz Gouveia*
Em 22.12.2022
No final dos anos 1990, quando estava prestes a concluir a graduação em Geografia na UFPE, havia um evento promovido pela Universidade chamado Domingo no Campus e ocorria no antigo laguinho. Feira de artesanato, comidas e bebidas, um ar de intelectualidade militante e boa música. Eu costumava dizer aos amigos que o Domingo no Campus era melhor que as aulas.
Numa das edições que ocorreram, um grupo subiu ao palco para se apresentar. Acho que era o ano de 1999 e a banda Cordel do Fogo Encantado, que no mesmo ano havia se apresentado no Carnaval do Recife, fez uma apresentação emocionante. Nunca tinha visto ao vivo uma banda associar duas paixões que tenho ao mesmo tempo: música regional e poesia. Ao som de “choveu”, “pedrinha” entre outras canções, eram recitadas verdadeiras pérolas da poesia sertaneja, especialmente do poeta Zé da Luz, com sua inesquecível “Ai se cesse”.
Nesse período, quando Pernambuco ainda tentava se recuperar da morte precoce de Chico Science, bandas como o Cordel do Fogo Encantado, Mestre Ambrósio e Cascabulho prosseguiam numa efervescência cultural. Mestre Ambrósio me encantou com “Fuá na casa de Cabral”, “Se Zé Limeira sambasse maracatu”… Nossa! Aquilo cheirava ao céu.
Mas, diz o ditado que o que é bom dura pouco. Alguns anos depois, tanto a banda Cordel do Fogo Encantado quanto o Mestre Ambrósio se separaram e deixaram um hiato na nossa música. É verdade que outras bandas e grupos continuaram o legado, mas os fãs jamais esqueceram as baladas criativas com forte apelo cultural e irreverência.
Felizmente, há uns três anos atrás fomos agraciados com a notícia do retorno aos palcos do Cordel do Fogo Encantado. E eu estava lá, no Clube Português, para prestigiá-los e matar a saudade. E para coroar, agora no final de 2022, foi anunciado o retorno do Mestre Ambrósio que, inclusive, já vem se apresentando em outros Estados. Dia 07 de janeiro de 2023 espero estar lá, novamente no Clube Português para cantar, dançar, me emocionar com uma das melhores coisas já produzidas pela música pernambucana. Assim como diz um trecho da música “Tem que tomar cuidado Zé em cidade que for chegando” do próprio Mestre Ambrósio. Vou moderar. Afinal, já não tenho meus vinte e poucos anos pra aguentar tanta emoção.
Aos componentes do Cordel do Fogo Encantado e do Mestre Ambrósio, e também a todos os/as artistas que não se rendem aos modismos e assim conseguem se projetar levando uma música de qualidade, dançante, empolgante, emocionante e engajada, desejo muitos anos de sucesso nesse retorno aos palcos.
*Enildo Luiz Gouveia – Professor, poeta, cantor, compositor, teólogo e membro da Academia Cabense de Letras – ACL.