Livro revela vida franciscana de fundador da rede de supermercados Arco-Mix

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 23.05.2024

Ação altruísta de Armínio Guilherme dos Santos fez uma comunidade pobre adotar o seu nome, alterando-o para Armínio da Paz

O livro Armínio da Paz é daqueles que emocionam já no início, no meio e no final. O desprendimento de Armínio Guilherme dos Santos, seu nome de batismo, é extraordinário. Menino de engenho e peão de usina, ele nunca precisou de muito para ser feliz e repartir com os mais necessitados. Sentimento que aprendeu no seio da família e transmitiu para as filhas, os filhos e todos que com ele conviveram mais proximamente. O lançamento está programado para hoje, quinta-feira (23.05), no Hotel Intercity do Shopping Costa Dourada, no Cabo de Santo Agostinho, das 17h às 19h.

Com muita luta compartilhada pela amiga e companheira de toda a vida, a sua esposa Antônia Severina dos Santos, ele construiu uma biografia inspiradora, notadamente a partir do momento em que se considerou desobrigado a permanecer à frente dos negócios da família, passando a missão à numerosa prole (cinco filhos e três filhas), a maioria já vivenciando a gestão do promissor comércio iniciado na janela da casa em que moravam na antiga Usina Santo Inácio, naquele município.

UMA JANELA PARA O MUNDO – Da janela da casa em que moravam o pequeno negócio foi transferido para o Mercado da Farinha. Depois de 17 anos de trabalho incansável o box já era o maior do Mercado da farinha, mas a família precisava de mais espaço e, em 1981, inaugurou o primeiro supermercado Arco-Íris (hoje Arco-Mix), na Rua Dr. Antônio de Souza Leão, no centro do Cabo de Santo Agostinho.

A janela alargou-se ainda mais e atualmente a rede de supermercados Arco-Mix emprega 2.100 colaboradores diretos distribuídos por 22 lojas em oito cidades da Região Metropolitana do Recife, incluindo a Capital, Recife.

Religioso fervoroso, Armínio Guilherme dos Santos viveu como um autêntico franciscano, como destacou a irmã Severina Maria Andrade, uma das principais líderes franciscanas no Cabo de Santo Agostinho há quase seis décadas. Disse ela: “…Ele – Armínio – era cheinho de caridade, amor e bondade. Ele fez muito tudo isso.”

O amor, a bondade e a caridade do franciscano evangelizador estão presentes em todos os 13 capítulos do livro. Por isso mesmo emociona e, mais que isso, inspira e transforma.

Foi assim agindo ao lado de 40 famílias que trabalhavam e moravam no antigo Lixão da Pista Preta que Armínio Guilherme dos Santos obteve a admiração, o respeito e o carinho daquela gente humilde. Famílias que ao conquistarem um lugar para morar com dignidade – mesmo em barracos feitos com tábuas e lonas plásticas inicialmente -, próximo ao lixão, retribuíram a ajuda recebida adotando o seu nome, modificado carinhosamente para Armínio da Paz.

Em 30 anos, a Vila Armínio da Paz cresceu e hoje abriga cerca de 300 famílias. A escola municipal homenageia Armínio da Paz e a população mantem viva a lembrança do benfeitor. Mesmo quem sequer conheceu Armínio reconhece a sua contribuição, como o presidente da Associação dos Moradores da Vila Armínio da Paz, José Fernando Gomes, que chegou à comunidade há 22 anos. Interpretando o sentimento da comunidade, disse que o povo se sentia acolhido por Armínio, via nele um protetor e isso lhes proporcionava paz.

Natural do município de Nazaré da Mata (Mata Norte), onde nasceu em 1928, Armínio Guilherme dos Santos chegou ao Cabo de Santo Agostinho na segunda metade da década de 1950.

O homem humilde, de hábitos simples, mas que tinha um grande coração, como atestam as mais de 50 pessoas que com ele conviveram e foram ouvidas pelo jornalista José Ambrósio dos Santos para a produção deste livro, completou a sua jornada terrena justamente em decorrência de uma falha no coração no final da tarde do dia 27 de novembro de 1995, no Plenário da Câmara Municipal do Cabo de Santo Agostinho, quando falava sobre direitos do consumidor, aos 67 anos de idade.

Tempo suficiente para iniciar e consolidar um próspero comércio varejista e atacadista. Tempo suficiente para transformar a vida de muitas famílias e construir um intenso e belo legado que inspira filhas, filhos, netos, netas e muita gente que com ele conviveu e aprendeu com o seu altruísmo, sinceridade e palavras acolhedoras, próprias da sabedoria popular alicerçada no humanismo e na vida franciscana que abraçou aos 48 anos de idade, por influência direta de Antônia, também franciscana.

Tempo suficiente para ser consagrado como Armínio da Paz.

O prefácio do livro Armínio da Paz é assinado pelo Monsenhor José Albérico Bezerra de Almeida, que em 1985 assumiu como pároco da igreja matriz de Santo Antônio.

Na época, Armínio Guilherme dos Santos participava intensamente das ações sociais e evangelizadoras da matriz, o que incluía a evangelização na Rua das Florentinas, que concentrava os antigos prostíbulos – localizada no centro da cidade. A evangelização era realizada sempre às terças-feiras. O grupo entrava de casa em casa.

Para assistir aos filhos das prostitutas foi instalada uma escolinha na garagem do antigo Bar da Fava, a cerca de 300 metros de distância da Rua das Florentinas.

Com o propósito de incluir ainda mais aquelas mulheres, o novo pároco as convidou para a igreja. Muitas passaram a frequentar a missa na Matriz de Santo Antônio. Entretanto, sabendo da pouca aceitação de uma sociedade preconceituosa, costumavam ficar nas últimas cadeiras.

Já próximo do final do prefácio de quase quatro laudas, o religioso diz textualmente: “Foi esse o seu Armínio que tive a alegria de conhecer e a graça de com ele pastoralmente trabalhar. Um franciscano que fez verdadeira opção pela pobreza, pois tinha como viver como rico. Só se faz verdadeira opção quando se tem a liberdade de escolher. Que se alegrava quando via as comunidades sendo protagonistas das suas histórias, desde a Rua das Florentinas, até a Comunidade Missionária de Nossa Senhora das Mercês. Participar de todas as formas, com a presença, ou ajuda financeira, de serviços que a Comunidade Paroquial criava ou promovia, como a Escola Santo Antônio para deficientes auditivos, até a campanha Ano 2000 sem Miséria.”

*José Ambrósio dos Santos é jornalista e integrante da Academia Cabense de Letras.