Pouco importa a verdade

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 10.06.2024

É mais fácil e cômodo acreditar naquilo que me agrada do que no que diverge da minha opinião.

Nos idos dos anos 1990 o Brasil passa a fazer de forma acelerada a adoção da internet, telefonia móvel, entre outras tecnologias que ajudam na comunicação e na difusão de informações e conhecimento. Lembro-me de algumas falas, ainda no tempo da Universidade, que diziam ser o fim dos livros físicos, das rádios, etc. Graças a Deus isto não se concretizou.

Passados quase trinta anos, o mundo enfrenta uma pandemia da COVID -19 enquanto outras pandemias localizadas deixam de ocupar as notícias e preocupações de autoridades internacionais. Associado à esta pandemia, a crescente crise ambiental onde as questões climáticas se sobressaem, também tornam-se objeto de preocupação, além da permanência e ocorrência de conflitos bélicos em todos os continentes.

Haveríamos de nos perguntar, com base nos conhecimentos científicos, as razões para tais questões. A ciência não é perfeita, mas, tenta ser racional e até mesmo imparcial – embora saibamos que isto seja impossível. Todavia, os avanços científicos, tecnológicos e econômicos não se traduzem em avanços morais nem mesmo na visão de mundo. As preferências políticas, as convicções religiosas, os preconceitos (étnicos, sociais) quase sempre falam mais forte quando as situações confrontam nossa zona de conforto. Daí que a frase dita por Jesus “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8, 32)” trazida para um contexto fora da religião, não parece fazer sentido. Não porque a verdade não liberte, mas porque a verdade pouco importa. É mais fácil e cômodo acreditar naquilo que me agrada do que no que diverge da minha opinião.

            Estas são as bases para o negacionismo. Quando a ciência e a realidade teimam em discordar das nossas convicções, inventamos narrativas, fake news, malabarismos teóricos/teológicos para permanecermos com nossas crenças. Vacinas se tornam mentiras, mudanças climáticas se tornam castigo divino e tantas outras maluquices.

Enquanto o mundo avança a passos largos no campo da ciência e da tecnologia, parte considerável das pessoas prefere não pensar. Abdicam de sua capacidade cognitiva em nome das “inteligências artificiais” que “pensam” por nós. Assim, nosso cérebro vai se acomodando com explicações simplistas sobre a realidade dos fatos e a verdade, vira mero capricho pessoal.

*Enildo Luiz Gouveia é professor, poeta, cantor, compositor e teólogo. É integrante da Academia Cabense de Letras – ACL

Imagem: Internet