Vai na bola, garotinho!

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 22.06.2024

Principal locutor esportivo do Cabo de Santo Agostinho em toda a história do rádio pernambucano, Antônio Francelino de Lima, o França Lima, completaria hoje (sábado 22 de junho), 77 anos de idade.  Com passagens pelas rádios Repórter (onde iniciou a carreira em 1972), Clube, Jornal do Commercio, Capibaribe, Continental, Cultura de Palmares, Cultural de Vitória de Santo Antão e outras, ele comandou na Rádio Calheta FM o programa Na Marca do Pênalti. Com o  programa criado em 1999 a Rádio Calheta FM tornou-se a primeira emissora comunitária de Pernambuco a transmitir os jogos de futebol direto dos estádios. A Seleção do Povo, como era chamada a sua equipe formada pelos filhos França Neto e Dudu Lima, além de Uanderson Melo, acompanhava os jogos do Ferroviário do Cabo e da Cabense.

Sua narração era só alegria e motivação até o apito final do juiz. Para manter o ritmo da narração quando das intervenções dos repórteres de pista, ele gritava:

– Vai na bola, garotinho!

Sandrele França, Dudu Lima e França Neto (centro) e Cissy Lima

Sua forte presença no rádio influenciou também as filhas Cissy Lima e Sandrele França. De modo que a família Lima mantém firme a tradição e todos os dias se comunica com os cabenses e com o mundo através da Rádio Cabo FM. Dudu Lima apresenta o Repórter 101; França Neto comanda o programa esportivo Na Marca do Pênalti; Cissy Lima faz o Sabadão 101, e Sandrele França é a forrozeira da emissora.

Lourdes Lima, viúva de França Lima.

Transcrevo a seguir crônica que publiquei no jornal Tribuna Popular em homenagem a França Lima, que encerrou a jornada no dia 26 de fevereiro de 2007, 22 dias após sofrer um infarto durante a transmissão do jogo Cabense e Serrano pela rádio Cabo FM, no Estádio Gileno de Carly, no Cabo de Santo Agostinho.

Gols de placa

José Ambrósio dos Santos (28 de fevereiro de 2007)

Quando ele entrava em campo era só alegria e motivação. Para ele não havia tempo ruim. Com sua característica empolgação, mesmo nas partidas mais difíceis, sempre jogava apostando na última possibilidade, principalmente quando se tratava do time do seu coração. Afinal, o jogo só acaba quando o juiz apita, como diz velho jargão do futebol. Daí a busca incansável pela superação até o minuto final. 

No dia 4 de janeiro ele foi escalado para a semifinal. Em campo, Serrano e Cabense, o time do seu coração. Era uma partida importantíssima para as pretensões da sua equipe, que voltara à Primeira Divisão do Campeonato Pernambucano depois de nove anos. Haja coração. 

Em sete partidas disputadas ele somente conseguira gritar quatro gols. Foram apenas quatro minguados gols, mas que a partir da sua garganta se transformaram em gooooooooooooooooooools. Um deles contra o Serrano, apesar da derrota por 2 a 1.  

Gritos de gols que contagiavam e emocionavam a torcida do azulão da Destilaria.  

Mas no meio do jogo ele precisou pedir substituição. Fora convocado para a partida decisiva. E então ele entrou em campo tendo pela primeira vez que enfrentar a sua própria torcida, a que ele mais amava, formada por seus familiares e pelos incontáveis amigos do peito, amealhados ao longo de 60 intensas jornadas esportivas.  

Jogo difícil e confuso em que ele buscava entender os dois lados. Lutou e levou a partida para o segundo tempo. Veio a prorrogação e então percebeu que a sua torcida entendia que ele fizera tudo o que estava a seu alcance; que cumprira a sua missão de maneira vitoriosa, que marcara inúmeros gols de placa. Ouviu o apito do juiz e se despediu da sua torcida. 

Quem esteve nas arquibancadas, nas cadeiras e nas gerais no momento da sua saída de campo, na terça-feira (27), pode constatar o quanto ele é querido. A camisa da Cabense estendida sobre o peito simbolizava o reconhecimento e o agradecimento da imensa torcida. 

Nos encontraremos em outras jornadas, França Lima. Bola pra frente, garotinho.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista e integrante da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Marcelo Ferreira