As ruínas de um teatro que irradiava cultura

Por
  1. Rafael Negrão*

Em 29.06.2024

Fecharam-se as cortinas queimadas. As chamas até hoje atingem a dramaturgia e outros setores artísticos do Cabo de Santo Agostinho, que já foi a capital do teatro brasileiro, na década de 1980.

Um dos principais espaços de cultura do Cabo de Santo Agostinho até quando esteve em funcionamento, o Teatro Municipal Barreto Júnior agoniza pelo abandono do poder público. Referência na promoção da arte no município que é um celeiro de artistas em diversos segmentos, deteriora em ruínas. Na última quarta-feira, muitos artistas cabenses lembraram com tristeza dos dez anos do primeiro incêndio, ocorrido no dia 26 de junho de 2014.

Três anos depois, em 2017, outro incêndio atingiu o Teatro Barreto Júnior causando ainda mais prejuízo, afetando o teto e destruindo parte do palco, além de áreas externas. Fecharam-se as cortinas queimadas. As chamas até hoje atingem a dramaturgia e outros setores artísticos do Cabo de Santo Agostinho, que já foi a capital do teatro brasileiro, na década de 1980.

Quem não se lembra do Festival Nacional de Teatro do Cabo e da Mostra Cabense de Esquetes e Poesias Encenadas (Mocaspe), que reunia milhares de pessoas todos os anos na cidade para prestigiar espetáculos e performances de vários transformistas e artistas da cidade, da Escola de Artes de João Brito? E das inúmeras exposições que movimentavam a cena artística  do município e de cidades vizinhas?

Abandonado e em ruínas, o Teatro Barreto Júnior tem servido para estacionamento dos veículos do 18° Batalhão da Polícia Militar (bem próximo) e, pasmem, para o uso de drogas, prática de sexo, depósito de lixo e entulhos.

Ficam uns questionamentos para os diversos governantes que estiveram e estão à frente da política cultural do município:

Até quando esse espaço de promoção de cultura e entretenimento será relegado ao descaso?

Por que um município que arrecada mais de 1 bilhão e 300 milhões de reais não prioriza a reforma desse equipamento público?

Como mudar esse cenário que coloca a cidade como a 8ª mais violenta do País, segundo o Atlas da Violência de 2024 divulgado na semana passada, no qual ressalta que a juventude pobre, preta e periférica cabense é uma das maiores vítimas da letalidade juvenil, tendo praticamente todos os dias jovens tombando em becos e vielas de nossa cidade conhecida popularmente e midiaticamente como cidade da morte?

O abandono decorrente do incêndio tisna o nome de José do Rego Barreto Júnior, que foi um ator e diretor de teatro cabense nascido em 1903, considerado um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro.

*Rafael Negrão é jornalista, militante dos Direitos Humanos, integrante da equipe de Comunicação do Centro das Mulheres do Cabo e colaborador da Agência de Notícias das Favelas e do Programa TVDH/Cátedra Unicap.