Liberté, egalité, fraternité

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 08.07.2024 

Voltamos imediatamente. Ao chegarmos em busca da mochila, a área em torno da mesa que ocupamos já estava isolada. Suspeita de bomba, informaram. 

A apreensão vivida nas últimas semanas pelos franceses e o mundo democrático com a ameaça de vitória esmagadora da extrema direita que acabou derrotada nas eleições legislativas de ontem, me fez lembrar breve momento de tensão que passei em Paris em março de 2004.

Iniciava-se a segunda quinzena de março e a Espanha estava em pânico com os atentados do dia 11 de março, quando dez bombas com temporizador colocadas em quatro trens com destino à estação de Atocha, em Madri, explodiram com poucos minutos de diferença, matando 192 pessoas de 17 nacionalidades e ferindo mais de 2 mil no ataque jihadista mais sangrento do século 21 na Europa.

O mundo estava apreensivo; a Europa estava assustada. Eu havia chegado a Paris vindo da Espanha, onde chegara no dia 06 de março. Com um grupo de amigos, almoçamos em uma loja da McDonald’s no centro da Cidade Luz. Quando caminhávamos deslumbrados com a beleza arquitetônica que a todos encanta, um dos amigos se lembrou que esquecera a mochila de costas no McDonald’s.

Voltamos imediatamente. Ao chegarmos em busca da mochila, a área em torno da mesa que ocupamos já estava isolada. Suspeita de bomba, informaram.  Só conseguimos acessá-la e recuperá-la aos nos identificarmos. Um alívio para os funcionários e alguns clientes que já se preparavam para sair por receio de um atentado.

Aquele momento de tensão nos deixou preocupados e, claro, muito mais atentos. Os noticiários contribuíam para uma maior inquietação. Mas nada mais aconteceu e nem tomamos conhecimento de situações de perigo. Pudemos circular tranquilamente pela capital cosmopolita que abraça todos os povos e acessar a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, a Catedral de Notre Dame, o Arco do Triunfo e a Basílica d0 Sacré Coeur, entre outras muitas atrações turísticas.

As eleições legislativas de ontem deixaram o mundo democrático mais tranquilo. A extrema direita, que liderava a corrida e avança em vários países, foi surpreendentemente derrotada, apesar de aumentar consideravelmente o número de cadeiras, passando de 88 para 143 assentos, mas ficando em terceiro lugar. A Nova Frente Popular (NFP), coligação de partidos de esquerda, obteve o maior número, 182, enquanto a coalisão governista obteve 168 cadeiras.

O enfrentamento ao avanço da extrema direita mobilizou autoridades políticas e celebridades de várias partes do mundo. Raí, ídolo do Paris Saint-Germain e ex-jogador da seleção brasileira, participou de comício da Nova Frente Popular, bloco de partidos de esquerda quatro dias antes, na quarta-feira (03), em Paris. Falando em francês, disse: “Conheço bem a extrema direita. O que eles fazem de melhor é mentir. Eu os conhecia no poder. A extrema direita é o fim do mundo, é o fim dos direitos humanos, da humanidade”.

E bradou: “Viva a França, viva a República, viva a democracia”.

Liberté, egalité, fraternité.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.