Coisas do futebol

Por

José Ambrósio dos Santos*
Em 12.07.2024

Há três semanas a Eurocopa e a Copa América oferecem grandes espetáculos de futebol. Seleções campeãs mundiais e de seus continentes se digladiando em alto estilo, bem diferente do desempenho de narradores e comentaristas esportivos, sobretudo dos primeiros.

Os atletas, em sua maioria se desdobrando em campo sob chuva, sol escaldante ou frio sabendo que representam seus países enquanto nós, telespectadores, ouvimos absurdos.

“Fulano, você é ridículo!”, grita um locutor para descrever uma bela jogada.

Pode isso, Arnaldo?

Fala sério!

E a gente ainda assiste a repetição nas chamadas do canal de TV: “Você é ridículo!”

Ridículo, gente!

Outros simplesmente indagam se tal jogador é deste planeta ao constatarem uma jogada digamos, brilhante.

Ora! Os atletas de alta performance são treinados para isso. O que deles se espera é o espetáculo, além do resultado positivo.

São deste planeta sim. Das favelas, das periferias, dos grotões, das terras saqueadas e esquecidas ao longo de séculos, embora alguns atletas se esqueçam das suas origens sul-americanas, africanas e outras.

E tem ainda os narradores que gritam (gritam mesmo) “chutou na cara”, “na orelha” da bola.

De uma agressividade e um tom machistas alarmantes, considerando que a bola é gênero feminino.

E isso tudo apesar da crescente presença feminina nas cabines de transmissão, nas redações, nos estádios de futebol e no próprio futebol.

E há os que dizem que sicrano deu uma ‘penteada’.

O que é isso?

Confesso a minha ignorância.

Recentemente a locução esportiva se despediu de Silvio Luiz.

Dele guardo frases engraçadas, como quando pedia que o repórter de campo descrevesse o que só ele – o repórter – tinha visto, principalmente após um gol.

Certa vez ao ouvir a descrição do repórter de campo, Silvio Luiz não perdoou:

“Ora, meu filho, isso todo mundo viu”.

Imagino a cara do repórter. Mas talvez fosse tudo combinado.

Coisas do futebol.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista, escritor e integrante da Academia Cabense de Letras.