A diversidade que faz o bem da humanidade

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 17.07.2024

E toda diferença que não oprime é positiva e necessária ao nosso crescimento.

Estou cada vez mais certo que cada pessoa vê o mundo a partir da sua realidade, do seu mundo. Isto não é um defeito, é algo natural. Mas, se ao enxergar o mundo a partir da sua realidade, você começar a condenar outros modos de vida, de crença, de cultura e de pessoas, sendo intolerante, aí temos um problema. Isto nem de longe significa que devemos aceitar tudo, especialmente condutas que atentem contra a vida, o meio ambiente, a integridade física, social e psíquica das pessoas. Na verdade, significa que devemos sempre tentar se colocar no lugar do outro sem, contudo, abdicar de quem somos. É o famoso princípio do respeito e participação na diversidade sem abrir mão de sua identidade.

Na esteira da consolidação da civilização ocidental, cujos princípios fundadores ao longo dos anos foram impostos como universais, a religião cristã em seus desdobramentos (catolicismo, protestantismo, ortodoxismo, anglicanismo…) não só herdou como contribuiu para que o modelo civilizacional ocidental tenha se tornado o modelo padrão de civilização para o restante do mundo. É bem verdade que isto não foi/é feito sem as tentativas de resistência de outras civilizações, a exemplo do mundo islâmico/muçulmano e povos africanos.

Por outro lado, há de se considerar que foi através dos contatos entre os diferentes povos, civilizações, que ocorreram as trocas de conhecimentos científicos, culturais. Apesar de nossa ciência ser ainda deveras eurocêntrica, ela não nasceu nem se desenvolveu exclusivamente na Europa nem nos EUA. É preciso ser justo com as contribuições de outros povos (árabes, egípcios, chineses etc), especialmente na Antiguidade.

Daí que, como afirma Boaventura de Souza Santos, toda homogeneização que busca descaracterizar precisa ser rechaçada. O mesmo se aplica quando toda diferenciação que busca nos fragilizar. Assim, juntar o diferente naquilo que nos une para nos fortalecer, deveria ser sempre um objetivo a ser atingido.

O discurso da tolerância precisa deixar de ser apenas discurso. O ser humano só se realiza na relação com os outros. E nesta relação, obrigatoriamente se encontra o diferente. E toda diferença que não oprime é positiva e necessária ao nosso crescimento.

*Enildo Luiz Gouveia é professor, poeta, teólogo, cantor e compositor. É integrante da Academia Cabense de Letras – ACL

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