Vença-se para não ser vencido

Por

Jairo Lima*

Em 19.07.2020

– Nós temos diversos inimigos

Colocando-nos traves na vida

Tornando a existência sofrida

Nas armadilhas dos duros castigos … 

– Epa! Alto lá, soar assim, amigos

É esquecer que seu maior algoz

Tá dentro de si, com mando e voz 

Mantendo-te escravo do homem velho

Tens ouvido para ouvir o Evangelho

Que diz: o manso vence o feroz

Todos nós estamos na estrada da vida a caminho do aprimoramento, da virtuosidade do ser, literalmente. Sabemos intimamente que somos seres em permanente construção e, portanto, necessitados de ajustes.

Mas o ritmo de cada caminhada obviamente é relativo, ou seja, cada um segue conforme sua vontade de apressar ou não o seu encontro com as virtudes, essas belezas reais da existência.

Mas há algo primordial nessa diferença de intenção de conquistas das nossas melhoras, que é o como tratamos os nossos inimigos ou o nosso inimigo, melhor dizendo.

E como saberemos identificar esse algoz? Esse inimigo que nos põe armadilhas no caminho e consegue nos desanimar, as vezes até para toda uma existência?

Como identificar esse monstro que nos tira força, nos faz sentir ódios, rancores, invejas, medos, angústias, decepções…?

Há como aniquilarmos este ser nefasto, maligno, sádico e ardiloso?

Há sim, se mate! Isso mesmo, se mate!

Mas não estou falando de suicídio.

Lhe convido a matarmos o “homem velho” que ainda teimamos carregar.

Já dizem os sábios: é impossível alcançar a virtude e, portanto, a felicidade, sem o autoconhecimento. Todos nós pagamos um altíssimo preço pelo medo que temos de olharmos para dentro de nós. Ainda não sabemos lidar com esse desafio tão importante para o nosso engrandecimento. Ainda preferimos beber as próprias lágrimas do que nos encararmos de frente.

Não adianta vencer o mundo sem vencermos a nós mesmos. A única batalha que nos define é a batalha interior. Nós é que realmente somos os nossos piores e mais ferozes inimigos.

Quantas vezes nos acovardamos quando, por circunstâncias de dores, precisamos olhar para nós mesmos? É desesperador e a vontade é de saímos correndo… Mas não adianta, é como réstia, não há liberdade dessa corrente pelo simples ato da fuga.

Daí incorremos no erro de culparmos a tudo e a todos. Preferimos o que julgamos ser mais cômodo sem nos darmos conta do sofrimento diário que estamos construindo.

Não há inimigo que retire a paz, a serenidade e a felicidade de quem vai à caça de si mesmo, que prefere a coragem do autoenfrentamento; que prefere pagar o preço da sua cura do que permanecer como um doente que esmola sua própria felicidade.

*Jairo Lima é poeta, escultor e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve aos domingos.