Quem disse que sensibilidade é desequilíbrio?

Por
Vera Rocha*
Em 26.07.2020
Certa vez, alguém muito espiritualizado me fez este questionamento título desta crônica, quando me recriminavam por ter o pranto fácil.
O choro é a primeira forma de comunicação do ser humano com o mundo. É uma forma de expressar tristeza, alegria, raiva, dor, culpa, emoção… Segundo a Psicologia, o ser humano é a única espécie biológica que chora por motivos emocionais. As lágrimas compostas por água, sal, óleo e proteínas, são produzidas por motivos diferentes. Lágrimas reflexivas protegem os olhos de irritações externas; lágrimas basais permitem a lubrificação do globo ocular e as lágrimas emocionais são ativadas pelo cérebro por meio do sistema imunológico, de acordo com situações que causem emoções.
Ao ler a crônica de Douglas Menezes sobre “A identidade que se vai”, dizia ele:  Quando Tune saiu de casa pela última vez para se tornar estrela, não ia embora apenas um pedaço de mim, mas uma parte de humano do Cabo de Santo Agostinho se despedia. Mesmo na dor, observei as janelas das casas antigas acenando lenços brancos, no coro triste do adeus. Era o meu pai partindo e os humildes da cidade homenageando-o, como fazendo justiça para quem muito contribuiu para o lugar que o acolheu.
Como é confortador sermos reconhecidos pelo que somos, e não pelo que temos.
Naquele dia, a população tomou as ruas de nossa cidade (Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco) para despedir-se de seu Tune do Cartório. Choravam lamentando sua partida. Eu também chorei sua morte, e como não chorar? Estava saudosa das tardes de domingo, quando em grupo vínhamos visitá-lo e cantar para alegrá-lo! Naquele dia eu tentava conter as lágrimas, até que fui a um canto da cozinha e chorei copiosamente, pedindo-lhe perdão por chorar e lembrando da censura que me faziam. Com a sua morte aprendi a lição que chorar não é desequilíbrio, o que precisamos aprender é modular as emoções.
*Vera Rocha é escritora, poeta, psicopedagoga, autora do livro “A cidade vista da minha janela & outros olhares” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve aos domingos.