Cidade para se bem viver
Jairo Lima*
Em 16.08.2020
Aglomeração humana localizada numa área geográfica circunscrita e que tem numerosas casas, próximas entre si destinadas à moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras e a outras não relacionadas, com exploração direta do solo. Eis o conceito de cidade formulado pelo lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda, embora essa definição nos sirva tecnicamente, hoje, certamente, o nosso Aurélio, captando o sentimento humano, inseriria ingredientes, digamos, mais humanistas.
O fato é que hoje esses aglomerados urbanos estão cada vez mais frios e insensíveis ao bem viver. Apenas nos grandes condomínios de luxo é possível encontrar ações físicas e humanas voltadas para uma vida de melhor qualidade. O irônico é sabermos que é nesses espaços que a maioria dos políticos levam seus staffs para extensos encontros para elucubrações, delírios e delícias de ideais sob lindas janelas por onde adentram a brisa do mar. De lá saem os mirabolantes projetos estéticos e políticas sociais dissociadas do direito do cidadão à felicidade e à satisfação por morar numa grande cidade.
Mas, infelizmente, na maioria dos casos, não conseguem refrescar os neurônios para perceberem que o povo – ah o povo – sempre esquecido… também é digno de espaços de convivência social mais humanizados. As cidades, ou melhor, os gestores, consideram o cidadão apenas como massa produtiva, inclusive de votos (como sempre) e tome-lhe overdose de lindas propagandas e promessas de que tudo vai melhorar, inclusive a vida em sociedade.
Hoje o Banco Mundial tem uma linha de crédito para grandes e médias cidades que, em vez de buscarem o crescimento desumano, insensato e cruel, procuram investir em ações que as desenvolvam social, cultural e economicamente e, claro, com o pé fincado na sustentabilidade, onde o cidadão deixa de ser apenas um número e passa a ser visto como um ser social, igualmente com direitos iguais aos dos que moram nas suntuosas mansões em espaços privados. Ou seja, não dá pra justificar que faltam recursos.
Parques dotados de equipamentos esportivos, programações culturais de boa qualidade, projetos que tornem os grandes aglomerados em espaços inteligentes, saudáveis e que sobretudo ofertem prazer para nelas se viver, assim como a manutenção e reavivamento constante da história local, o estímulo ao empreendedorismo e ao voluntariado social, enfim, há dezenas de obras e ações disponíveis. Em cidades assim, naturalmente a violência diminui, o estresse se retrai, a saúde agradece, as crianças se divertem, os idosos se aproximam…e a vida vai ficando doce. Portanto, gestores à beira das eleições saibam que não precisam de receitas mágicas, de pesquisas que em muitos casos não detectam o verdadeiro sentimento das ruas. Olhai-vos os lírios dos campos.
O cidadão não quer apenas morar, ele quer e precisa viver bem na cidade, com autoestima elevada, com segurança e paz, na qual o conceito moderno de saúde seja pleno, como define a Organização Mundial da Saúde (OMS): um estado de completo bem-estar físico, mental e social. E não, simplesmente, a ausência de doenças ou enfermidades,
Muitas cidades andam tão pobres que só têm dinheiro.
*Jairo Lima é pós-graduado em Gestão Pública e membro da Academia Cabense de Letras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
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Ótimo conteúdo, reflete sem dúvida a divisão social dentro de um mesmo ambiente urbano cada vez mais cruel.
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