Moldar a paz, juntos

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 21.09.2020

Esta segunda-feira 21 de setembro se inicia com um veemente apelo dirigido ao mundo pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres. Em mensagem de vídeo, ele conclama partes beligerantes em todos os lugares a deporem armas e a trabalhar em prol da harmonia, no Dia Internacional da Paz. “Vamos moldar a paz, juntos”, destaca Guterres, afirmando que todos são convidados a fortalecer os ideais da paz vivendo um dia sem violência.

O apelo por paz de Guterres será ressaltado também nesta terça-feira (22), na abertura da semana de alto nível da Assembleia Geral, na sede da ONU, nos EUA. Em março deste ano, com o início da pandemia da Covid-19, ele já havia pedido um cessar-fogo global. No entanto, em muitos campos de batalha houve agravamento dos conflitos.

“À medida que a pandemia da Covid-19 continua a assolar o mundo, este apelo é mais importante do que nunca”, considerou. Para ele, o mundo enfrenta um inimigo comum, um vírus mortal que vem causando imenso sofrimento, destruindo meios de subsistência, contribuindo para as tensões internacionais e agravando os já grandes desafios para a paz e a segurança.”

Este ano, a organização fundada em 1948 para promover a cooperação internacional, como resultado do fim da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), comemora 75 anos.

Dos dez conflitos considerados mais preocupantes no mundo em 2020, três ocorrem na África, conforme estudo do Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED) divulgado pelo UOL. O aumento da violência no Sahel fez a região que abrange dez países africanos, mais ao norte do continente, entrar para a lista. A violência política foi mais difundida na região ao longo do ano passado, quando foram registrados mais de 2.100 situações como explosões, protestos que terminaram em confusão, conflitos armados e violência contra civis.

Outros dois conflitos africanos entraram para a lista dos 10 mais preocupantes do mundo em 2020. Um deles acontece na Somália, onde há um grande risco do grupo terrorista al-Shabaab se fortalecer e acabar dominando um governo enfraquecido.
A violência política na Etiópia mudou da resistência contra o regime para conflitos étnicos, incluindo tumultos e confrontos instigados por milícias étnicas. Resultado: ao longo de 2019 houve brigas em universidades que terminaram em mortes até grandes conflitos armados. Foram quase 300 registrados no ano passado, entre explosões, manifestações e protestos que desencadearam em violência. Aproximadamente 680 pessoas morreram nestes episódios

Um grande desafio também para a União Africana, que iniciou 2020 com o o objetivo de silenciar armas no continente.

México, Iêmem, Índia, Irã, Afeganistão, Líbano e EUA também integram a lista. Estudo realizado pela Associated Press, USA Today e Northeastern University que contabilizou 41 ataques que resultaram em 211 mortes, em 2019, maior número de assassinatos em massa do que em qualquer outro ano registrado.

O ACLED listou, basicamente, locais onde a violência tem sido consequência de protestos e extremismo. Ouvido pelo UOL, o professor de Relações Internacionais da PUC-Rio, Marcio Scalércio, disse, em fevereiro, existir em várias partes do mundo um movimento de descontentamento em relação a como o processo político e social está se estruturando desde o final dos anos 90. E ele não acha que esses movimentos vão parar logo

Foto destaque: Boinas-azuis em Juba, Sudão do Sul. Manutenção de paz foi sempre uma das missões da ONU, Unmiss/Eric Kanalstein

*José Ambrósio dos Santos é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

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