A flor
Douglas Menezes*
Em 27.09.2020 (em memória)
Wilson Firmo faz poesia com as imagens. Busca leveza onde há aridez. Descobriu uma flor sob os trilhos e entre pedras. Patrícia Freitas falou de ternura, vencendo a dureza da vida, para ilustrar a mesma imagem.
Intacta a flor, apesar do peso de toneladas a fustigá-la o dia todo. Uma lição para a existência. A aparente fragilidade ultrapassando barreiras, vencendo obstáculos, dizendo das coisas possíveis, onde não se previa sobrevivência.
E onde há leveza na simplicidade, há poesia em tudo, quando os olhos se pousam querendo ver um mundo diferente, tirando verdades que só a alma transparente consegue enxergar.
Todos nós somos poetas.
Não precisamos de palavras, só de vida plena e atitudes humanísticas para mudar momentos, para aliviar um pouco esse peso medonho que é viver, nesses tempos dolorosos de descrença nos valores éticos.
De notícias carregadas de desesperanças a encherem os telejornais de medo, de inquietação, fazendo-nos viver a realidade que pensávamos ser o pesadelo de um filme de terror.
Acostumando-nos a um sofrimento que a gente do bem não construiu. Povo perplexo ao encontrar no cotidiano a veracidade que a telinha nos mostra todos os dias, como uma verdade de uma guerra onde todos são derrotados.
Pois assim mesmo cabe um otimismo realista, transformador, para que apareça uma nesga de mudança. Um mundo de aparentes frágeis, a confrontarem um sistema de poucos controladores de toda a maldade da vida. Os donos de corpo e alma, os que decidem quem vive ou morre.
No entanto Wilson descobriu uma flor sob os trilhos, entre pedras, cheia de vida e de ternura, como falou Patrícia.
NOTA DO EDITOR
Com a publicação da crônica A flor, o blog Falou e Disse dá sequência às homenagens àquele que é considerado o maior cronista do Cabo de Santo Agostinho (PE) nas últimas três ou quatro décadas. Professor, poeta, escritor, um operário das letras, Douglas Menezes completaria 67 anos de idade no dia 23.09, mas se despediu da cidade e da gente que tanto amou no dia 26 de fevereiro deste ano, na Quarta-feira de Cinzas,
A crônica A flor ocupa as páginas 22 e 23 do livro Uma canção, por favor, último livro de crônicas publicado por Douglas Menezes, em agosto do ano passado. São 46 crônicas que o blog publicará a cada dia. A homenagem foi iniciada no dia do seu aniversário (23.09), com a publicação da reportagem Douglas Menezes, um operário das letras.
Foto destaque: Wilson Firmo
Em meio a pedras , pedregulhos , brotam flores que embelezam lugares árduos e inférteis.
Essa crônica de Douglas representa essa situação de delicadeza das flores!!!