Caçada a corruptos

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 30.09.2020

Todos os dias e quase o dia todo (inclusive sábados, domingos e feriados) um batalhão de caçadores de corruptos entra em campo. A caçada é implacável e se dá em cenários quase sempre paradisíacos.

A captura deixa os corruptos literalmente num “mar de lama”. Capturados, são atirados em espaços pequenos onde são empilhados, sujos da lama na qual se encontravam, por tratar-se do seu habitat.

O objetivo principal é a utilização dos corruptos na captura de peixes maiores e, alguns desses, na captura de outros ainda maiores. Uma ‘cadeia’ de atuação que funciona a contento ao longo do tempo. Faça chuva ou faça sol.

Uma caçada que não tem fim, embora  os caçadores tenham êxito todos os dias. Nesse caso o “dia da caça” simplesmente não existe.

Os caçadores são pessoas simples. Geralmente residem em locais próximos às praias. Pegam no trabalho logo cedo e muitos se estendem por todo o dia.

A caçada em geral tem plateia desatenta, já acostumada com a prática. Experientes, olhar atento ao vaivém das ondas, eles dão sempre o bote certo, no recuo da água, principalmente na maré baixa.

É sempre nesse momento, no recuo da água, que eles são vistos, nem sempre por inteiro, e quando percebem a presença dos caçadores, mergulham (ou se enterram), pelo menos tentam, mas são sempre alcançados e capturados.

O corrupto é um crustáceo decápode cavador pertencente à família Callianassidae.  Possui garras em forma de pinças sendo uma delas bem maior que a outra. É chamado de corrupto por não aparecer e ser difícil de capturar, por habitar e se esconder na areia das praias. O instrumento de captura é um cano geralmente de PVC ou metal com uma haste de sucção.

Vejo sempre os caçadores de corruptos durante as minhas caminhadas pelas praias de Candeias, Barra de Jangada e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE). Muitos se divertem quando são indagados sobre o que estão fazendo. Sabem da enorme dificuldade enfrentada por outros “caçadores” de vorazes e escorregadios corruptos em ação no país inteiro. Mas essa é outra história.

José Ambrósio dos Santos é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.

Foto destaque: Fernando da Hora/JC Imagem