Os dilemas de Suape I: história e contexto
Enildo Luiz Gouveia*
Em 01.10.2020
Não houve nos últimos 35 anos nenhum empreendimento no Estado de Pernambuco com a envergadura do Complexo Industrial e Portuário de Suape Governador Eraldo Gueiros, ou simplesmente CIPS. Sua instalação proporcionou um incremento econômico para o Estado e principalmente para os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, onde está instalado. Todavia, a história do CIPS, da sua concepção à sua instalação e funcionamento, guarda um leque de contradições que abordaremos aqui de forma introdutória.
Suape era o termo que os indígenas utilizavam para designar os rios tortuosos, os caminhos incertos. O CIPS encontra-se instalado nos municípios do Cabo de Santo Agostinho (62%) e Ipojuca (38%) que juntos formam a Microrregião de Suape, que por sua vez faz parte da Mesorregião Metropolitana do Recife. Sua concepção remonta ao final da década de 1950. Todavia, foi em 1973, com o decreto 2845, que teve o início da sua construção. Inicialmente foi desapropriada uma área de mais de 13 mil hectares que vai do pontal do Cupe, em Ipojuca, até a Foz do Rio Jaboatão.
Segundo os documentos oficiais, a instalação do CIPS nesta área foi motivada por sua posição geográfica: características naturais existentes (profundidade próximo a costa) e disponibilidade de áreas desabitadas e água, além da proximidade com o mercado europeu. Em 1836 o naturalista Charles Darwin ao navegar pela costa pernambucana, elogiou a beleza cênica do local.
O CIPS nasce no contexto da ditadura militar e também da implantação dos planos de desenvolvimento que previam acelerar a industrialização e integrar economicamente a região Nordeste ao restante do país. Por esta razão, as diversas vozes que se levantaram contra a forma como Suape foi concebida e construída, foram abafadas ou ignoradas. Tais vozes, já na década de 1970, pareciam profetizar os problemas que Suape traria anos depois.
Vale destacar que nos anos 70, 80 e 90 do século passado, Suape teve pouca importância no cenário econômico, pois suas operações eram tímidas. Nota-se que neste período ocorreram muitas intervenções (dinamitação de recifes, construção de estradas, dragagem, etc). Só a partir de 2005, com a chegada do Estaleiro Atlântico Sul e posteriormente com a Refinaria Abreu e Lima é que ocorre maior movimentação e o CIPS passa a figurar com destaque no cenário econômico do Estado e do País. A evolução econômica e populacional, bem como os problemas decorrentes deste processo, serão abordados no próximo artigo.
*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras – ACL. Escreve às quintas-feiras.
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