Resgate de crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e trafico dá a educadora colombiana Prêmio Nansen de Refugiados
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Em 02.10.2020
Arriscar-se para socorrer meninas e meninos vítimas de abusos sexuais e tráfico até mesmo em territórios dominados por grupos de tráfico humano e contrabandistas, no Nordeste da Colômbia. Foi com essa atuação que empreende há 32 anos, período no qual já salvou milhares de crianças e adolescentes, muitas delas refugiadas, que a educadora colombiana Mayerlín Vergara Pérez conquistou o Prêmio Nansen de Refugiados deste ano.
Ao anunciar a ganhadora do prêmio global, ontem, o o alto comissário da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, disse estar diante de uma heroína. “Ela representa o que de melhor existe em nós”, sintetizou. Grandi elogiou o que ele chamou de valentia, coragem e uma atitude sem egoísmo da vencedora deste ano para proteger as crianças mais vulneráveis do mundo. Para ele, a atitude dela é “nada menos que heroica”.
Ele disse, ainda, que a educadora incorpora a essência do prêmio pela dedicação para salvar crianças refugiadas e restaurar a esperança de um futuro melhor. Maye, como é conhecida, cruzou a pé várias comunidades remotas do nordeste da Colômbia, onde grupos de tráfico humano e contrabandistas operam.
Mave é coordenadora regional para o Caribe da Fundação Renacer, que criou há 32 anos, e que já atendeu a mais de 22 mil crianças e adolescentes vítimas do crime de exploração sexual além de sobreviventes de outros tipos de violência sexual e de gênero. Ela lidera uma equipe na Fundação Renacer, que coopera com o Instituto do Bem-Estar da Família, uma entidade do governo colombiano para proteger crianças no país.
Ao denunciar os abusos, ela contou com o apoio da sociedade civil, das autoridades da Colômbia e do setor de turismo, conhecido como um campo fértil para a explorações e o tráfico de seres humanos no país. Todas essas forças se uniram para assegurar a proteção das crianças e dos adolescentes
Maye afirmou que a exploração tem um impacto enorme sobre as crianças: psicológico, emocional, social e físico. Ela contou que vê meninas que não compreendem que o corpo delas pertence a elas. A ganhadora disse que as meninas são tão maltratadas, abusadas e exploradas que acabam se sentindo alienadas.
O trabalho de atuação dela ajudou a criar duas legislações na Colômbia: a 1329, com um período de sentença de pelo menos 14 anos de prisão para os que forem condenados por explorações sexual de crianças e adolescentes, e a lei 1336, que pune os proprietários de estabelecimentos que permitem a exploração de crianças.
Em todo o mundo, milhões de crianças são vítimas de tráfico todos os anos, e meninas e mulheres são as maiores vítimas desse crime. Refugiados, migrantes, candidatos a asilo e deslocados internos correm alto risco de práticas como casamento precoce e forçado e associação com membros de grupos armados.
Refugiados venezuelanos
O Acnur avalia que desde 2015 a situação na Venezuela se deteriorou forçando milhões de pessoas a fugir de suas casas. Cerca de 1,7 milhão se abrigou na Colômbia. Muitos venezuelanos acabaram vítimas de traficantes de seres humanos, gangues, e outros criminosos que atuam na fronteira.
De 2015 a 2019, o número de casos de tráfico humano subiu 23%, na maior parte por causa dos refugiados e migrantes venezuelanos na Colômbia. E somente nos primeiros quatro meses desse ano, o crime teve aumento de 20%, a maioria dos casos era de mulheres e meninas vítimas de tráfico com fins sexuais.
O controle na fronteira por causa do risco de contaminação com a Covid-19 só piorou a situação. Muitas crianças foram forçadas ao trabalho infantil com o aumento do desemprego.
O Prêmio Nansen é entregue a pessoas que se destacam no serviço àqueles que tiveram que fugir de suas casas se tornando deslocados forçados. Mais de 82 indivíduos ou grupos foram agraciados com a distinção. Apoiado pelos governos da Noruega e da Suécia, o prêmio dá uma medalha comemorativa e um cheque de US$ 150 mil ao vencedor. Com informações da ONU News.
Foto destaque: Acnur/Nicolo Filippo Rosso –