Debate ou duelo de bufões?
Jénerson Alves*
Em 02.10.2020
Começou a temporada de debates eleitorais. As mídias de comunicação podem se converter em aerópagos ou em ringues, a depender do comportamento dos candidatos. Aliás, sempre é válido mencionar que a palavra ‘candidato’ vem do latim (candidatus), significando ‘vestido de branco’, de modo que os pretendentes a cargos eletivos deveriam se apresentar com candidez, sinceridade. Infelizmente, nem sempre os sujeitos fazem jus ao conceito da palavra. Cabe ao eleitor perceber se os púlpitos dos debates estão sendo utilizados de forma digna ou se tudo não está sendo transformado em um grotesco duelo de bufões.
Marco Túlio Cícero já afirmava, no período clássico, que a persuasão pode ser feita pelo convencimento – isto é, quando os argumentos falam à razão; ou pela comoção – quando os argumentos apelam às paixões. Quem vence debates pela emoção não necessariamente carrega verdades em seus argumentos.
O Brasil, império da verborragia, é repleto de pessoas que cotidianamente discutem sobre tudo – do preço do pãozinho a metafísica no mesmo nível de quem torce por um time de futebol. Neste contexto, é comum que sejam utilizados argumentos ilegítimos, manobras retóricas, sofismas.
Uma das maiores violações do debate racional é a tática de ignoratio elenchi – expressão latina que significa “ação de ignorar aquilo que deve ser refutado”. Quando o debatedor é incapaz de refutar a tese do opositor, vale-se do desvio do foco da questão, com o intuito de desqualificar o adversário. Levando ao extremo a máxima que a maior defesa é o ataque, quem utiliza a ignoratio elenchi não se furta em lançar mão de argumentos ad hominem (dirigidos à pessoa).
Outro recurso argumentativo é o silêncio. Segundo Fiorin, quem utiliza este recurso tem o objetivo de humilhar e desdenhar do oponente. No âmbito político, sobretudo, ignorar o debate significa fechar os ouvidos para ideias divergentes, desprezando a parcela da população que se sente representada por outros postulantes. É uma ação autoritária e antidemocrática. Se é verdade que um debate de baixo nível é um problema, a fuga do debate é uma calamidade.
*Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.
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