Os dilemas de Suape II: o “sonho” se torna realidade

Por

Enildo Luiz Gouveia*

Em 08.10.2020

No artigo da semana passada vimos que o “sonho” chamado Suape (o CIPS) remonta ao final da década de 1950 e que as obras de sua instalação tiveram início em meados da década de 1970. Suas primeiras operações datam do início da década de 1985 e até o final da década de 1990 o CIPS não representou grande impacto na economia pernambucana ou regional. Todavia, as obras que buscavam dar viabilidade e visibilidade econômica ao CIPS possibilitaram, por exemplo, a inclusão do município de Ipojuca na Região Metropolitana do Recife (RMR) em 1994. Ateremos-nos a falar dos reflexos do desenvolvimento de Suape em Ipojuca e no Cabo de Santo Agostinho, municípios que abrigam o Complexo Industrial Portuário de Suape.

A despeito do crescimento econômico verificado nestes municípios, onde Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho há anos figuram entre as cinco maiores economias do Estado, houve também um forte crescimento demográfico. De acordo com o IBGE, a estimativa da população residente em Ipojuca para este ano é de 97 mil habitantes contra 80 mil em 2010. Para o Cabo de Santo Agostinho, a estimativa pra este ano é de um pouco mais de 208 mil habitantes quando em 2010 eram 185 mil. Em ambas, houve sensível queda na população rural.

Evolução da participação do Cabo e de Ipojuca na economia estadual entre 2002 – 2017. Elaborado pelo autor com base nos dados do CONDEPE/FIDEM.

 

 

 

 

Refinaria Abreu e Lima

Navio petroleiro João Cândido

Estaleiro Atlântico Sul

 

O boom representado por Suape nas economias destes municípios foi e é visível. No entanto, o progresso nos indicadores sociais não foi tão intenso quanto a evolução econômica. Os municípios têm problemas para gerir os recursos oriundos, sobretudo do Imposto Sobre Serviços (ISS) arrecadado. Outro problema refere-se aos passivos socioambientais deixados pelas grandes obras, outrora pujantes, mas que hoje estão longe de retomarem. Muitos dos que aqui chegaram atraídos pelo ‘canto da sereia’ do CIPS, retornaram para seus locais de origem ou migraram para novas frentes promissoras de trabalho. Já os que aqui ficaram sonham com a retomada do seu Eldorado dos empregos. Abordaremos mais sobre isto no próximo artigo.

*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às quintas-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: Jorge Luiz Bezerra