Vinte e dois anos sem o escritor navegante Morris West

Por

Arnaud Mattoso*

Em 14.10.2020

No último dia 9 de outubro completaram-se vinte e dois anos da morte do escritor australiano Morris West, um dos maiores nomes da literatura mundial do século vinte. Autor com mais de sessenta milhões de exemplares vendidos, numa época em que não existiam e-books nem internet. Morris West era um fabricante de best sellers, desde “O advogado do diabo”, o primeiro livro publicado em 1959.  A obra literária foi premiada e adaptada para o cinema em 1977.

O segundo livro foi publicado quatro anos depois do primeiro e a repercussão não foi diferente do livro anterior. “As Sandálias do Pescador” foi sucesso imediato e, até hoje, é uma das obras mais conhecidas desse autor pouco lido pelas novas gerações. Uma pena, porque a literatura de West, assim como a de Stephen King, outro criador de best sellers mundiais, são aulas práticas de como entreter o leitor com histórias envolventes de tramas e reflexões humanas.

Os temas religiosos abordados com frequência na literatura de Morris West não são por acaso. A família dele é de origem irlandesa e católica, sendo responsável pelos ensinamentos religiosos que o autor usou com profusão em suas narrativas. Para completar a vivência nesses temas que envolvem diplomacia e igreja católica, Morris West atuou como jornalista correspondente no Vaticano. Ele foi ganhador do prêmio internacional Dag Hammarskjold, em 1978, e membro da Real Academia de Literatura e doutor “honoris causa” pela Universidade da Califórnia (EUA).

A minha experiência pessoal com a literatura de Morris West começou na adolescência, no fim dos anos mil novecentos e setenta. “O verão do lobo vermelho” foi o primeiro livro que li de sua vasta obra, seguido de “As sandálias do Pescador” e “O advogado do diabo”. Mesmo hoje, na maturidade da leitura e da experiência de também escrever literatura, continuo recorrendo a Morris West em busca de aprendizado. Mas nem de longe as duas obras mais famosas são as minhas preferidas desse autor australiano.

Se o leitor aceitar sugestões, posso indicar “O navegante” como a obra que mais admiro e a que mais me impressiona. Já li e reli a ficção-literária sobre o navegador havaiano Thorkild por três vezes, tendo a certeza de que a lerei outras vezes até o fim da vida. Não vou dar spoiler, nem fazer sinopse sobre o romance. Apenas dizer que poucos autores, a não ser Gabriel Garcia Márquez, outro entre os meus preferidos, foi capaz de construir personagens com tanta maestria quanto Morris West, nessa obra que se passa nas ilhas do Pacífico Sul.

Continuo admirando “O verão do lobo vermelho”, ficção-literária de 1971, ambientada nas ilhas nórdicas entre a Irlanda e Escócia. É a obra que estou revisitando, na linha do tempo em que relembro a morte desse escritor genial do século passado e meio esquecido no século presente. A supremacia de Morris West na construção de personagens e na descrição de cenários é de perfeição cósmica. Você tem a certeza de que o autor esteve naquele local para escrever a história. Talvez esteja aí a máxima de Ernest Hemingway sobre ficção-literária: de que a história precisa ter força de realidade para ser boa. O autor americano era craque nisso.

Morris West foi publicado no Brasil pela editora Record e, hoje, é fácil e barato encontrar seus livros em sebos. Não tenho todos os quase trinta livros publicados por ele, mas estou sempre procurando algo que ainda não li. Recomendo que leitores ávidos por bons romances o conheçam. É preciso não esquecer que a grafia e a pontuação dos anos 1970 tem algumas diferenças da atual, mas nada que impeça a leitura. Morris West morreu em 1999, de ataque cardíaco, aos 83 anos, em Sidney, Austrália. Ele faleceu escrevendo a sua última obra: “A última confissão”. A trama voltava ao tema religioso, dessa vez sobre um filósofo católico herético.

Em tempo: Uns dez anos atrás descobri outro autor australiano chamado Tim Winton, atualmente com 60 anos de idade e vasta obra publicada nesse país da Oceania. O primeiro livro dele publicado no Brasil, pela editora Argumento, chama-se “Fôlego” (The Breath). É uma história bastante original que se passa na cidade de Perth, oeste da Austrália. Outro livro de Tim Winton, publicado no Brasil, se chama “A mulher perdida”. Esse ainda não o li, mas está na minha lista.

*Arnaud Mattoso é jornalista e escritor.