Guerras civis quase triplicaram em dez anos
Redação, com ONU News Brasil
Em 28.10.2020
Um estudo apresentado ontem na na Assembleia Geral das Nações Unidas revela que o número de guerras civis quase triplicou na última década, com um aumento de seis vezes em mortes associadas. Segundo o relatório do Grupo de Trabalho sobre Empresas e Direitos Humanos ressalta que o pico foi registrado em 2016, quando 53 países tinham situações em conflito.
De acordo com o documento, a Covid-19 agravou tanto os riscos de conflitos violentos como o cenário político, que já era considerado frágil. O grupo sugere a todos os atores, incluindo empresas, que garantam que suas ações não alimentem as tensões e a violência.
Presidente do Grupo de Trabalho, Anita Ramasastry, classificou o quadro como sombrio. Ela disse crer que teoricamente as empresas responsáveis possam sustentar a paz. No entanto, “a realidade é que ainda falta uma abordagem sensível aos conflitos considerando os riscos às pessoas, o que resulta em ações comerciais que contribuem ou sejam ligadas a abusos dos direitos humanos que minam a paz.”
O relatório cita “antigos” desafios relacionados às empresas em países ricos em recursos naturais, destacando que, embora os regulamentos sobre “minerais de conflito” sejam oportunos, estes “não mudaram a situação no terreno”.
Relações comerciais
Já as mais recentes dificuldades e dilemas incluem as empresas que estão ligadas a atores armados não estatais, através de suas atividades ou relações comerciais.
O estudo realça que mesmo havendo empresas com a melhor das intenções operando em países pós-conflito, em especial em um contexto de reconstrução, ou nações em período de justiça transicional, as companhias podem enfrentar uma série de possíveis armadilhas.
Em relação à era cibernética, o documento observa que aumentaram os abusos em contextos afetados por conflitos e alimentados por desinformação e campanhas de ódio online.
O relatório destaca haver fatores que exigem uma maior ação dos Estados, das empresas e do sistema das Nações Unidas para ajudar a garantir uma ação das empresas que não leve a cometer abusos. O grupo alerta que essas violações, por sua vez, podem incentivar o conflito, piora-lo ou ter um impacto negativo na construção da paz.
Impacto
O documento constata que até o momento a arquitetura de paz e segurança da ONU, que tem como meta manter a paz e segurança mundiais, tem dedicado pouca atenção ao papel e ao impacto das companhias em contextos de conflito.
Além dos atuais Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos, o grupo quer uma ação mais decisiva para integrar os negócios e os direitos humanos em estruturas de paz e segurança.
Depois de apresentado à Assembleia Geral, o estudo segue para uma série de discussões com representantes da sociedade civil, de empresas, de governos e de entidades internacionais.
O documento também será tido em conta na implementação de um roteiro global dos princípios orientadores das Nações Unidas para a próxima década.