A sociedade da informação não dá sentido para as nossas vidas

Por

Nelino Azevedo de Mendonça*

Em 28.10.2020

Vivemos atualmente na sociedade da informação. A massa de informação produzida nos nossos dias é absolutamente incompatível com a nossa capacidade de absorvê-la e principalmente de processá-la de forma significativa para a nossa vida cotidiana. O saber enquanto processo meramente acumulativo de conteúdos não passa de uma linguagem operacionalizada e incapaz de gerar uma energia possível de se integrar ao modo de existência do ser humano e, por essa razão, não passa de informação. É principalmente por esse motivo que informação não é a mesma coisa que conhecimento. Ao contrário da informação, o conhecimento se incorpora de forma ativa no modo de vida do ser humano e passa a dar sentido à pessoa porque se estabelece no sujeito como sabedoria de vida.

Segundo Byung-Chul Han, essa massa de informação é fruto da sociedade da transparência. A sociedade da transparência torna o ser humano um sem-ser, pois o destitui de sua humanidade, reduzindo-o e coisificando-o. Nesse sentido, também elimina as possibilidades de singularidades, tornando o mundo um-igual sem precedentes, no qual não há espaço para o outro, para o diferente. Han afirma que “As coisas se tornam transparentes quando eliminam de si toda e qualquer negatividade, quando se tornam rasas e planas, quando se encaixam sem qualquer resistência ao curso raso do capital, da comunicação e da informação” (2017, p. 9, 10), Sociedade da transparência, Vozes.

A sociedade da transparência elimina qualquer possibilidade de reação e de resistência, subordinando o indivíduo a uma existência opaca, por isso busca eliminar a dimensão do saber como conhecimento. No conhecimento habita uma negatividade capaz de gerar o contraditório, o argumento, a hermenêutica. Nesse âmbito, a vida pulsa como energia criadora possível de luz e de acontecimento que impulsiona para a viabilidade da ação criativa. É por essa razão que a transparência que predomina atualmente na sociedade não admite a negatividade e atua para a efetivação da positividade. A sociedade da transparência é uma sociedade da positividade porque não aceita o contraditório, o paradoxal, a oposição.

A informação é uma linguagem niveladora que elimina resistências. Nela não há espaço para a utopia, para a sedução.

É nesse contexto da sociedade positiva da transparência que a informação chega a seu ápice. Nessa contemporaneidade, o acúmulo de informação tende a ser um ambiente pantanoso onde corremos permanentemente o risco de sermos engolidos pela sociedade da informação, como se fôssemos simplesmente um objeto a mais na cadeia de operacionalização do sistema, sem resistências e sem critérios, numa corrosiva ação sistêmica de igualização. A sociedade da informação disponibiliza estruturas e ferramentas para lidar com a técnica de forma operacional e mecânica e não para a compreensão do ser humano a partir de seus anseios e perspectivas de mundo e existência, na intenção do fortalecimento de suas utopias e subjetividades.

A informação é uma linguagem niveladora que elimina resistências. Nela não há espaço para a utopia, para a sedução. Na transparência, a regra é o desnudamento desavergonhado e sem critérios, por isso nessa sociedade a massa de informação se torna um lugar propício para a proliferação das fake news. Na sociedade da informação não há espaço para a metáfora, para a linguagem da poesia, para o que segreda e para o que diz sem dizer. A sociedade da transparência elimina a linguagem da ambiguidade, da polissemia, da riqueza que se escuda nas entrelinhas. Portanto, nela cabe apenas a informação com o seu limite raso e liso.

*Nelino Azevedo de Mendonça é professor, mestre em Educação e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às quartas-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: internet