A influência de Lula e Bolsonaro nas eleições
Carlos Sinésio*
Em 03.11.2020
Em artigo publicado neste espaço no final de julho (O peso de Bolsonaro), abordamos a influência que o presidente Jair Bolsonaro teria nessas eleições municipais. Levantamos a questão por entender que, em determinados locais, com eleitorado mais conservador, os candidatos apoiados pelo ex-capitão do Exército poderiam levar vantagem. Mas em outros, entretanto, onde há uma forte tendência do eleitorado em preferir nomes mais à esquerda, esse apoio teria uma influência negativa.
Pois bem, no último fim de semana, a revista Veja publicou matéria mostrando que Bolsonaro e também o ex-presidente Lula exercem pouca influência nas eleições, se for levado em conta o prestígio político que conquistaram em todo o País. A maioria dos eleitores nas principais cidades do Brasil não vota em candidatos pelo simples fato de receberem declarado apoio de Bolsonaro ou de Lula. Isso, sem dúvida, é um fato interessante. A influência dos dois líderes é bem pequena.
De acordo com pesquisa feita pelo instituto MDA, a pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), 44,% dos entrevistados disseram que o apoio do presidente não influencia na escolha do seu candidato para prefeito. Quanto a Lula, esse número chega a 38,2%. Enquanto isso, menos de um terço do eleitorado se disse com disposição para votar em alguém apoiado seguindo recomendação dos dois famosos cabos eleitorais.
A revista, aliás, cita vários exemplos. Um caso curioso e emblemático é São Paulo. No maior colégio eleitoral do Brasil, o candidato do PT de Lula, Jilmar Tatto, patina com 4% da preferência dos eleitores, segundo pesquisa recente do Datafolha. Já o candidato Celso Russomanno (Republicanos), que passou a ser apoiado pelo presidente e seus filhos, despencou nas pesquisas e perdeu a liderança para Bruno Covas (PSDB), que disputa a reeleição.
Os casos são muitos pelo país a fora. Pouquíssimos ou nenhum candidato nas principais cidades que seja apoiado pelos dois maiores líderes políticos deverá mesmo ser eleito. Isso demonstra que os dois políticos não estão lá com essa bola toda, embora Bolsonaro tenha aumentado sua popularidade e a aprovação do seu governo tenha subido no últimos meses.
Lula e Bolsonaro despontam como possíveis candidatos a presidente em 2022 e podem se enfrentar. No caso de Lula, ele precisa antes se livrar das condenações judiciais. Mesmo gozando de prestígio e popularidade, não parece ser tão bom assim para um candidato receber o apoio dos dois nas eleições deste ano. Não fosse verdade esta assertiva, muitos candidatos ligados aos dois líderes estariam em situação confortável nas disputas pelas prefeituras mais importantes do País. Neste momento, aparecer ao lado de Bolsonaro ou de Lula pode ser o que se chama de tiro no pé.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Enquanto Lula vem de uma trajetória negativa e comprometedora, Bolsonaro faz o contrário, vem de uma vitória estupenda nas urnas. Quando o eleitor põe os dois no mesmo saco, cabe aos especialistas da área encontrar uma explicação para esse fenômeno contraditório e pasmoso.