A eleição está chegando
Valéria Saraiva*
Em 09.11.2020
Hoje ouvi fogos de artifício perto de casa. A eleição está chegando e todo(a)s o(a)s candidato(a)s estão nas ruas pedindo votos para, depois de eleito(a)s, muito(a) dele(a)s desaparecerem por mais quatro anos, deixando o povo à míngua, como tem feito hoje.
Não vejo a hora de acabar esse período eleitoral – é claro que não estou negando a sua importância. É que parece que todo mundo está candidato. Meu pai disse que o rapaz que entrega gás na casa dele está candidato a vereador e o barbeiro também.
Fora os candidatos mais antigos que sempre estão presentes em todos as eleições. Acho que eles têm medo de serem esquecidos. Por isso estão sempre se candidatando.
Eu até entendo a importância da propaganda eleitoral, mas panfletagem deveria ser proibida por causa da pandemia do novo coronavírus. Eu pego esses papeis que recebo e jogo no lixo, depois passo álcool em gel nas mãos.
Espero que a curva da doença não comece a subir por causa da campanha eleitoral. Ainda tem gente morrendo por causa do vírus. Ainda tem gente internada sofrendo nos hospitais. Mas tinha que haver eleição? Espero que isso não resulte em uma nova onda de contaminação da doença no país inteiro. E o fechamento do comércio, parques e praias de novo.
Faz muito tempo que não vou à praia. Mas pelas fotos que vejo na TV as pessoas não respeitam o distanciamento e não usam máscara. É só ter um pouco de paciência que em janeiro a vacina chega e volta tudo ao normal.
Tá difícil essa quarentena toda em casa. Já engordei uns dois quilos. Aprendi a fazer umas sobremesas novas. Adoro assistir programa de culinária no GNT. Mas também estou lendo bastante.
Essa eleição vai ser diferente pelo menos na minha família. Cada um vai votar na sua cidade. Há muito tempo que moro no Recife e acabei transferindo meu título pra cá. Sempre na eleição era uma reunião de família na casa da minha mãe, no Cabo de Santo Agostinho. Ela fazia um cozido ou um munguzá salgado e entre as votações todo mundo aparecia para almoçar lá em casa; meus irmãos, meus tios, primos.
Hoje ela está doente e não tem condições de fazer seus quitutes. E eu que sou a única que aprendi a fazer esses pratos vou ter que ficar no Recife para votar na eleição.
A eleição perdeu o encantamento de outrora. Pelo menos na minha família. Era uma reunião de família. E ficávamos todos na torcida por nossos candidato(a)s.
E quando o resultado saía era decepção ou alegria.
Bons tempos.
*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.