Menina vítima de racismo cria sua própria biblioteca comunitária

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Mariana Lima/Observatório do Terceiro Setor

Em 15.11.2020

Lua Oliveira, de 13 anos, sofreu com racismo e o bullying na escola, mas reverteu o cenário e já ajudou a criar seis bibliotecas no Rio de Janeiro

Devido ao seu cabelo crespo, Raissa Luara Castro de Oliveira, popularmente conhecida como Lua, ouviu de seus colegas da escola frases que a afetavam diariamente.

O racismo mascarado pelo bullying incluía apelidos pejorativos como “a menina do cabelo duro” e “a menina do cabelo de bombril”. Lua começou a escutar as frases entre os cinco e seis anos de idade.

Ela também apanhava dos colegas que ainda ainda chegaram a cortar pedações de seu cabelo. Como não sabia como reagir, Lua não contou para ninguém o que estava ocorrendo.

A situação só mudou quando a mãe de uma colega de Lua descobriu o que estava acontecendo. A mãe de Lua chegou a ir até a escola para conversar com a diretora, que informou que nada poderia fazer e convidou que Lua saísse da escola.

Lua acabou deixando o local e, embora os ataques tenham cessado na nova escola, ela também sofreu com o racismo e o bullying quando a família se mudou para um condomínio.

Aos poucos, Lua foi ficando cada vez mais deprimida e sem nenhum amigo. Foi neste momento que a família decidiu pedir ajuda.

Por indicação de uma assistente social, Lua começou a dançar hip hop e se encontrou com outras crianças negras.

Hoje, aos 13 anos, Lua atua como representante do movimento anti-bullying. Além disso, Lua se tornou uma princesa em um livro.

Escrito em sua homenagem, o livro “A pequena princesa”, de Carlos Gomes, reforça a importância de haver personagens negros na literatura e em outros meios culturais.

A literatura foi decisiva para o fortalecimento da autoestima de Lua, que nutria o sonho de distribuir livros para todas as crianças.

Quando percebeu que havia interesse, mas não acesso, a carioca postou um vídeo em suas redes sociais, em setembro de 2019, pedindo doações.

A postagem ocorreu logo após ir à Bienal do Livro, ocasião em que percebeu que muitas crianças pegavam livros baratos na prateleira e os devolvia por não terem como pagar. Em menos de 20 dias, Lua conseguiu mais de quatro mil livros voltados para todas as idades.

Com um retorno positivo, seu novo propósito passou a ser ter uma biblioteca em cada canto. A partir das primeiras doações, Lua criou a “No mundo da Lua”, sua primeira biblioteca comunitária.

Atualmente, o acervo conta com mais de 30 mil livros e atende aos 21 mil moradores da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, onde mora com os pais.

A sala de leitura oferece diversos equipamentos como televisão, computadores e impressoras e alguns móveis. Tudo foi doado para uso das crianças.

Devido à pandemia do novo coronavírus o espaço está fechado, mas o empréstimo de livros continua disponível.

Como as doações não param, o projeto criado por Lua vem ajudando a criar outras bibliotecas. Até o momento, a menina já colaborou com a abertura de outros seis espaços na cidade do Rio de Janeiro e pretende inaugurará mais três até o  fim do ano.

As ações ocorrem por meio de parcerias, ou seja, algumas pessoas que já tem esses espaços pedem livros para montar as bibliotecas ou clubes de leitura em seus projetos sociais e Lua repassa as doações que recebe para eles.

Ela já enviou obras para o Espírito Santo, Piauí, Rondônia e Bahia.

Foto: Arquivo pessoal | Divulgação

Fonte: Portal Lunetas