Racismo e barbárie
Valéria Saraiva*
Em 24.11.2020
Sábado passado (21), Dia da Consciência Negra, compartilhei uma frase que li no facebook: “Numa sociedade racista, não adianta não ser racista, é necessário ser antirracista.” (Angela Davis).
O que temos para comemorar?
Quando a princesa Izabel assinou a Lei Áurea (13 de maio de 1888) que pôs fim ao regime escravocrata, os cativos simplesmente foram libertos, sem receber nenhuma indenização pelo tempo que trabalharam em regime de escravidão. O governo (Império) deveria ter feito uma reforma agrária em benefício daqueles e daquelas que nada possuíam. Mas foram soltos e ficaram ao “Deus dará”. A República, instalada no ano seguinte, também nada fez nesse sentido. Sem trabalho, passando fome, sem nenhuma formação para conseguir uma colocação no escasso mercado de trabalho, muitos continuaram trabalhando nas fazendas em troca de comida e teto. Outros foram para os morros e as periferias dos centros urbanos, onde ainda se encontram muitos ou a maioria dos seus descendentes, apesar da luta cotidiana pela sobrevivência com dignidade e pela cidadania plena.
132 anos se passaram e o que temos para comemorar?
Ainda estamos discutindo racismo e injúria racial. Anda existem pessoas sendo agredidas e mortas por sua cor de pele, sofrendo discriminação e humilhação.
O que dizer do caso do espancamento até a morte do negro João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, numa loja Carrefour de Porto Alegre por seguranças brancos, um deles policial militar, na sexta-feira 20, véspera do Dia da Consciência Negra? É um absurdo o que estamos vivendo. Toda vida importa: branca, negra, amarela, seja qual for a etnia.
Aqui e no mundo o racismo, maltrata, humilha e mata. Em maio deste ano irrompeu uma onda de protestos nos EUA e no planeta contra o racismo após um homem negro (George Floyd) ser morto brutalmente por um policial branco. Mas as barbáries se repetem lá e cá.
Reflitamos sobre o que disse a educadora e ativista dos direitos humanos baiana Makota Valdina: “Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos, que foram escravizados.”
E sobre o ensinamento do líder sul-africano que enfrentou e venceu a segregação racial que o aprisionara: “A grande glória da vida não está em nunca cair, mas em se levantar cada vez que caímos.”
É com esperança no futuro que termino essa crônica.
*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras