Um mundo mais colorido

Por

José Ambrósio dos Santos*

Em 31.12.2020

“Se eu amar todas as cores, o meu mundo será mais colorido!”

O ano que se finda hoje deixa marcas profundas no Brasil e no mundo em uma das mazelas da humanidade: o racismo. Infelizmente, foram muitos os casos de intolerância que inclusive culminaram com a morte de pessoas negras. Crimes bárbaros, inaceitáveis, perpetrados por um sentimento doentio. Ao começar a escrever esse artigo me veio à memória uma frase que ouvi há dois anos e meio da minha netinha Letícia, que tinha apenas três anos de idade. Pintando uma tela, alegre, sorrindo, ela me disse:  “Vovô, se eu amar todas as cores, o meu mundo será mais colorido!” Quanta sabedoria em uma criança que ainda sem conhecimento das maldades praticadas pelo homem e que apequenam a humanidade, entende a importância da harmonia entre as cores. Três aninhos e uma compreensão que o homem ainda não assimilou em milhares de anos de ‘civilização’.

George Floyd, negro assassinado no dia 25 de maio deste ano por um policial branco em Minneapolis (EUA), e João Alberto Silveira Freitas, negro espancado e morto por um policial e um segurança em uma das lojas do Carrefour no dia 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra. Crimes hediondos. Para ficar somente nesses casos.

O momento de virada de ano, cheio de expectativas, sempre favorece a reflexão e até o abrandamento. Vamos refletir, pois, sobre o ensinamento de Nelson Mandela. Dizia ele: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” Este ensinamento cheio de esperança e confiança do líder negro sul-africano inspira e encoraja muita gente, organismos internacionais e entidades que atuam incansavelmente na defesa dos direitos humanos. Dia e noite. Todos os 365 dias do ano.

Em mensagem de saudação ao ano que se inicia, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, diz contemplar raios de esperança.

Que nós jornalistas, cronistas, se formos falar de racismo, que seja sobre a intensificação da luta antirracista e dos avanços e das conquistas nesse campo. Nunca mais sobre o derramamento de sangue de gente negra simplesmente por ser negra. Sangue vermelho, igualzinho ao de brancos, amarelos…

Que 2021 seja colorido e que as bandeiras universais da liberdade, igualdade e fraternidade abriguem de fato a todos e a todas, vencendo o ódio, o racismo, a xenofobia e todas as formas de intolerância e preconceito. Que a nossa paleta de cores esteja sempre completa, de modo a nos favorecer a plena harmonia na composição das nossas telas diárias.

*José Ambrósio dos Santos é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras.