2021, tempo de esperança

Por

Mirtes Cordeiro*

Em 04.01.2021

“Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. ( Carlos Drummond de Andrade )

Grande poeta, Drummond, sabia muito das coisas da vida e nos brinda com o seu poema Receita de Ano Novo… falando da beleza do arco-íris ou da cor da Paz que não seja “pintado de novo ou remendado às carreiras” sem listas de boas intenções. Nem precisa de arrependimentos nem achar que a partir de Janeiro tudo começa a mudar automaticamente, que  as pessoas se amem e os povos se ajudem mutuamente.

Passadas as festividades, as emoções, as tristezas decorrentes das perdas do ano que findou, é necessário acompanhar o pensamento do poeta e despertar o que existe dentro de cada um. Tenho a impressão que se referia às grandes possibilidades que cada pessoa de prover uma vida melhor, desenvolvendo suas capacidades e seus valores individuais que serão a força para se conectar com o outro, o semelhante, nos cuidados com a vida, na relação que os filósofos denominam de alteridade.

É possível e necessário entender o que significa o novo e a esperança.

Sem dúvida, a maior esperança é a vacina, já aplicada em vários países, mas que ainda está inatingível para os brasileiros.

Cuidar da vida humana é o principal, mas depende também de cada um. Todos têm responsabilidades.

Enquanto não chega a vacina, vimos que grandes aglomerações foram realizadas por brasileiros alheios ao que acontece com as pessoas atingidas pelo contágio do vírus. É aquela história de que falta a consciência de cada um para ter a responsabilidade devida à manutenção da sua vida, de suas famílias e do seu semelhante.

Para que se tenha esperança em um país diferente é preciso despertar o desejo de mudança e, sobretudo, ter atitudes que conduzam às mudanças.

Na verdade, o Ano Novo começa hoje, 04 de Janeiro, inclusive com novas gestões políticas para municípios, o que faz com que tenhamos também a esperança que governos assumam maiores responsabilidades com as políticas públicas básicas e necessárias para a grande maioria da população.

Então, temos a esperança, em primeiro lugar, que usem o dinheiro que vem do povo através dos impostos para resolver as necessidades da vida deste mesmo povo. São muitas, como a moradia em lugares saneados; escolas em tempo integral com boas estruturas e professores bem formados e valorizados; a manutenção da saúde da população com o zelo, a eficiência e a eficácia necessárias; o cuidado com a juventude que tem necessidades bem especiais; o estímulo aos modos econômicos que geram emprego e renda aos que ora necessitam.

Que trabalhem sobretudo com transparência e ética, porque faz bem a todos. Faz parte do que se deve atribuir à normalidade da vida de todos.

Que a violência entre os povos e entre as pessoas não tenha guarida.

Que a polícia proteja mais e que não mate, como vem acontecendo no país.

Que as mulheres não sejam mortas por seus companheiros, namorados, maridos, como aconteceu ao longo e sobretudo ao final de 2020.

Que as crianças tenham assegurados os direitos de serem crianças, com a garantia de habitação, escola, saúde e lazer.

Desejos com esperança. Cabe a cada um despertar o Ano Novo que existe dentro de si, como diz Drummond em seu poema.

*Mirtes Cordeiro é pedagoga. Escreve às segundas-feiras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.