Uma vida franciscana
Valéria Saraiva*
Em 04.01.2021
Desde que perdi minha Mãezinha pra esse vírus (novo coronavírus), minha vida mudou completamente. Fiquei sem chão. Maria Gorete Sampaio Saraiva se foi. Ela era tudo para mim, minha melhor amiga, meu porto seguro. Fiz uma pequena homenagem a ela na missa de sétimo dia (27/12/2020). Mas sei que ela merece muito mais. O mais triste é não ter tido a chance de dizer adeus. Faltou um último olhar, um último abraço. Mas esse vírus antecipou o que já estava previsto. Ela não viveria muito com os problemas de saúde que tinha.
Sábado fui à gráfica pegar os santinhos dela. Eu mesma elaborei o texto. Também elaborei o epitáfio que vai ficar na lápide. Estou tendo que lidar com tantas coisas com as quais não estou acostumada. Minha mãe era uma guerreira. Lutou pela vida por muito tempo. Ela tem uma história linda de mais de 50 anos de dedicação à vida religiosa franciscana.
Ela entrou no convento com 14 anos de idade. Foi uma das fundadoras, junto com a Madre Iva, do Abrigo São Francisco, no Cabo de Santo Agostinho. Ela Seguiu os passos de Cristo. Mas precisou sair do convento por problemas de saúde e voltou a estudar. Conheceu meu pai, David, no convento. Porque minha tia Geni, irmã dele, também era freira. Ele também era colega de escola do meu tio Meton. Quando ela resolveu voltar a estudar meu avô José Saraiva Deolindo pensou nele para dar aulas de reforço. Os dois se apaixonaram e depois da formatura dele, se casaram. Tiveram quatro filhos e uma neta. Foi um casamento de 43 anos. Todos estão sofrendo com a morte dela.
Ela era alegre, fazia muitos planos. Mas os planos de Deus eram outros. Tive que dizer no hospital pela primeira vez que meu pai era viúvo. Isso doeu fundo no meu peito. Ela adorava a oração de São Francisco. Vou encerrar essa crônica com o final da oração:
“Ó mestre, fazei que eu procure mais
Consolar que ser consolado
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se vive
para a vida eterna.”
Onde você estiver, Mãezinha, receba nossas orações. Nossos corações estão juntos.
*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.
Foto destaque: franciscanos.org.br
Lindo testemunho de quem realmente viveu/conviveu que tinha sempre um toque de DEUS.
Prima Valéria, sua mãe era pura generosidade, um ser de luz. Sou solidária à sua dor, q tb é minha/nossa – somos da mesma família “Saraiva”. Gorete, certamente está bem junto ao Pai, no qual ela acreditava e difundida seu nome. Eu, como ela, tenho um carinho especial por São Francisco – sua história de humildade, simplicidade, despreendimento material e servir aos q mais precisavam.
Muito bom e PROFUNDO.