Comportamento insano
Carlos Sinésio*
Em 05.01.2021
Enquanto dezenas de países em todos os continentes caminham a passos largos para imunizar a população contra a Covid-19, o Brasil anda no ritmo de tartaruga para disponibilizar a vacina a seus habitantes. Enquanto cientistas, médicos e outros profissionais da saúde defendem o uso de máscaras e o distanciamento social como formas de barrar a propagação do coronavírus, o presidente Bolsonaro, militar da reserva, prega o contrário, num comportamento insano e irresponsável.
É triste, muito triste mesmo ver o chefe da nação, sem noção, agir na contramão do que o mundo responsável faz para combater uma doença que já atingiu, oficialmente só no Brasil, quase 8 milhões de pessoas, matando quase 200 mil delas.
Mais triste ainda é assistir milhões de brasileiros seguindo o que prega o seu líder inconsequente, aplaudi-lo e concordar com as asneiras de quem age como genocida, quando deveriam repudiar esse tipo de comportamento. Até mesmo por solidariedade às vítimas sobreviventes ou aos familiares dos mortos. Falta humanidade em muita gente.
Foi repugnante ver o presidente mergulhando no mar de Praia Grande, no litoral paulista, no primeiro dia do ano, para delírio de centenas de banhistas que, sem máscaras, se aglomeravam para chamar seu ídolo maior de mito. Choca ver tantas pessoas com um comportamento que se mostra irracional, de quem não tem amor à própria vida e muito menos à vida das outras pessoas que procuram seguir as orientações dos profissionais de saúde e da ciência.
Um dia antes do mergulho, o presidente, numa das suas costumeiras lives, afirmou que as máscaras de proteção são coisas de ficção, ou seja, não protegem ninguém. Isso é exatamente o inverso do que comprovaram diversos estudos feitos por prestigiadas instituições médicas em vários países, como Alemanha e Inglaterra, pra citar apenas esses dois.
O fatídico ano de 2020 ficou para trás. Chegou 2021, e o governo federal ainda não sabe, com clareza, quando iniciará a vacinação contra a Covid e qual ou quais vacinas irá disponibilizar à população. Por conta disso, prefeitos e governadores, com algum senso de responsabilidade, se articulam para oferecer a vacina às pessoas, sobretudo àquelas que integram os grupos de mais riscos de contraírem a doença. Aí estão incluídos os idosos, os profissionais da saúde e da área de segurança, professores e pessoas com problemas cardíacos.
Se depender de Bolsonaro, a vacina vai demorar para chegar aos postos de saúde. Enquanto isso, a Covid se espalha, faz vítimas e assusta muita gente, causando grandes prejuízos também à economia.
Tudo faz crer que, nesse contexto, a população pode alimentar alguma esperança nas prefeituras e nos governos estaduais. Estes pelo menos demonstram mais sensibilidade para resolver a situação o mais breve possível e parecem ter um pouco mais de respeito às pessoas.
Mas enquanto a vacina não chega, use máscara, lave sempre as mãos ou passe álcool e mantenha o distanciamento social. Com essas atitudes, você não apenas protege a sua saúde, mas demonstra ter amor ao próximo, coisa que o presidente não parece ter de forma alguma.
*Carlos Sinésio é jornalista com 35 anos de profissão. Trabalhou nos jornais O Globo, Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco. Foi assessor de comunicação em diversas instituições públicas e privadas e repórter freelance no jornal O Estado de S. Paulo e na IstoÉ. Atua na TV Alepe. Escreve às terças-feiras.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.
Foto destaque: Presidente Bolsonaro em Praia Grande no dia 30.12.2020 – atribuna.com.br
Impressionante o cinismo com que ele trata algo tão serio e grave como os impactos da pandemia. Tão impressionante quanto o fato de um grande número de pessoas ainda darem ouvido a ele