O luto em tempos de pandemia
Valéria Saraiva*
Em 11.01.2021
A dor de perder um ente querido é grande. Ainda mais quando esse ente querido foi contaminado pelo novo coronavírus. Quando ele vai para a UTI, a família perde todo o contato com ele. Fica esperando pelos boletins médicos no final da tarde. E depois que ele morre, você não tem acesso ao corpo. A funerária tem que seguir um protocolo. O caixão é fechado e enterrado o mais rápido possível. Não tem missa de corpo presente, não tem velório, só alguns minutos no cemitério para se despedir e enterrar, sem padre, sem nada. Só uma oração dos poucos familiares que foram permitidos comparecer.
O luto é mais difícil para a família. O sofrimento é maior. E não estamos sozinhos nesse sofrimento. Só no Brasil já morreram mais de 200 mil pessoas contaminadas pelo Covid-19. E cadê a vacina? Quantas pessoas precisam morrer ainda?
Essa doença, quando não mata, deixa sequelas. E a família sofre por não ter podido dar um último adeus, por não ter tido a chance de ver seu ente querido uma última vez enquanto ainda estava vivo. E por não poder fazer o funeral da forma que gostaria.
Ver o caixão sendo colocado no jazigo e lacrado com tijolos e cimento. E só poder rezar e cantar um louvor. Ter que guardar no coração as lembranças do passado. Não ter podido se despedir é muito difícil de aceitar.
Ainda tive a chance de ver o rosto da minha Mãezinha pelo vidro do caixão por poucos minutos. Meu Deus! Como ela sofreu! A doença seguiu seu curso grave. Foi de derrame pleural a falência renal e parada cardíaca em uma semana. Foi tão rápido.
Não sabia que quando estava arrumando as bolsas dela pra levar para o hospital era a última vez que ia ver minha Mãezinha viva. Dói muito não ter podido me despedir. Mas ela sabia que era amada. Isso eu não tenho dúvidas. Fico lembrando da sua alegria, do seu otimismo. Fazia tantos planos. Mas os planos de Deus eram outros.
Mais uma vítima do Covid-19. Mais um número nessa estatística cruel do coronavírus. Deus queira que essa pandemia acabe logo. Tenho esperança que vai acabar. Que a vacina vai chegar. Já chega de tantas perdas.
Que esse novo ano seja de cura!
*Valéria Saraiva é enfermeira, poetisa, cronista, autora do livro “Lírios, Tulipas e escorpiões” e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às segundas-feiras.
Foto destaque: mundodomarketing.com.br
Muito bom!
Tenho certeza que exprime os sentimentos de milhares de pessoas que não puderam se despedir de parentes e amigos queridos!