Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar
Jairo Lima*
Em 17.01.2021
Caminhar mal acompanhado, bem acompanhado, com uma só pessoa ou mesmo com multidões, ainda assim estaremos sóis. É preciso uma nossa convivência solitária, uma auto vivência para desenvolvermos a percepção da solidão até do outro e quais as suas companhias mais íntimas. “Conhece-te a ti mesmo.” (Socrates)
O que nos define como ser é justamente a possibilidade de isolamento, de sermos únicos e, portanto, como tal, nada há de externo que nos modifique na nossa estrutura mais central que nos promova uma reforma intima, ampla e irrestrita. Muita gente tem receitas prontas para outrem, mas não tem para si mesmo, por simplesmente ter medo de se encarar. Daí, tudo filtre, tudo depure, pois é justo e prudente reflexionarmos. Evite as manipulações ou ser uma simples peteca em joguetes alheios. A mediocridade, apesar da rima, não combina com a liberdade.
Caso contrário, a humanidade seria uma mera produção industrial em série.
Quem te impõe uma estrada a seguir nunca estará presente no final dela. A cada um caberá ser o seu próprio advogado. Claro que é inegável que há caminhos apontados por onde já é possível vislumbrar algumas nesgas de luz, algum entalhe de trilhas esculpidas por outras experimentações bem sucedidas. Estas são, digamos, um pouco mais seguras, entretanto, as nossas particularidades é que devem abrir clareiras na escuridão das nossas almas. As nossas lamparinas nunca devem ser iguais às do vizinho, do parente, do amigo, do líder religioso… para cada breu, um tipo de luz e, principalmente, uma carga de combustível específica. Caso contrário, a humanidade seria uma mera produção industrial em série.
Mas, algo há inconteste e comum a todos, muito embora aqui siga meu respeito aos materialistas, que é a fé. Ir só não significa caminhar cegamente, sem se aperceber o que há ao seu redor. Quem anda com fé, vai só, mas vai com o suprimento necessário para enfrentar a sede e a fome que leva às armadilhas aqueles que dela estão desprovidos.
Quem anda com fé espanta os leões devoradores do caminho, esmaga as ervas daninhas e enfrenta seus próprios vampiros. A fé não atraiçoa, ela fortalece. Andar com fé é mesmo sozinho sentir paz, é ver a solidão como uma oportunidade de autoconhecimento, é ver tanta gente em sua volta sabendo fazer as diferenciações justas e necessárias. Andar com fé é saber do que de fato precisa, do que merece e ser digno receber.
A fé não falha, porque ela nos liga Àquele que nunca nos abandona. A fé não falha por nos ser o cordão umbilical entra a terra e o céu. De onde estamos, para onde voltamos.
A fé é essência humana até naqueles que a rejeitam, visto que sempre despertam para ela no momento da dor.
*Jairo Lima é poeta, escritor, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.
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