A sina da vida funcional
Jairo Lima*
Em 31.01.2021
O ser humano é pouco afeito a dar à intuição a sua devida atenção e valor. A poluição sonora externa nos governa diariamente. Somos bombardeados quase ininterruptamente por informações, verdadeiros escravos de uma vida que nos faz pensar apenas na nossa funcionalidade social e não damos conta dessa falta de liberdade mais ampla na completude da razão de vivermos. Somos levados constantemente para apenas o agora, em detrimento da sinfonia que toca a intuição, mas que ainda não nos educamos para ouvi-la, quiçá, muitos até a desconhecem.
A intuição, apesar de que às vezes leva o homem ao engano, o que, claro, faz parte do nosso processo de aprendizado e, portanto, é perfeitamente normal, ainda assim, é o caminho mais seguro e promissor para que tenhamos a sensação espiritual de que passar por essa experiência de vida, por nossa estada neste orbe, valeu a pena.
A criatividade é um fluxo de energia permanente, colocada à disposição de todos nós, mas escolhemos a comodidade da cópia, o conforto da mesmice e a preguiça da repetição.
Somos ainda muito funcionais, repetindo as mesmas coisas, fazendo as mesmas tarefas, como numa espiral de viciações comportamentais. Daí então, colhemos sem nada compreendermos, os mesmos frutos. Ao invés de buscarmos um horizonte inventivo, preferimos bater a cabeça nos barrancos da miopia existencial. A criatividade é um fluxo de energia permanente, colocada à disposição de todos nós, mas escolhemos a comodidade da cópia, o conforto da mesmice e a preguiça da repetição. Afinal de contas, o que pesa hoje é nascer, fazer download da cartilha do mundo moderno e pronto, aguardarmos que a morte faça a limpeza do hd e, bye bye so long.
A lã que lustra a existência, dando mais brilho à vida, jamais encontraremos vivenciando uma experiência sem as aventuras de novas experiências. A reluzente luz do ser não ousa sair-lhe das dos escombros da alma, se lhe impomos a timidez pela falta da ousadia. A intuição é a estrada que nos liga às fontes que energizam a nossa essência, estabelecendo uma comunicação com a consciência universal, desanuviando um mundo invisível, mas tão próximo de cada um de nós.
O homem ainda tem boa parcela do cérebro inexplorado. A imensidão dos oceanos guarda tantos segredos ainda desconhecidos e, como já disse Hamlet: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”. E aí veio um invisível vírus recentemente nos confirmar isso. Saiamos dos nossos casulos para vivermos a potente vida lá fora.
“Nem sempre, porém, a ignorância imobiliza. Quando comandada pela intuição, pelo ideal e pela decisão de vencer, de conquistar, torna-se uma força a caminho da verdade ou da vitória. Se Vasco da Gama soubesse mais e sonhasse menos, teria recuado diante do cabo das Tormentas. Se Colombo fosse bom cosmógrafo não descobriria a América. E vale ainda lembrar de Saussure, o segundo homem a subir no Monte Branco, foi um sábio. O primeiro foi um pastor: Balmat. O que não invalida, é claro a ciência, nem desvaloriza o sábio”. Vitor Hugo.
*Jairo Lima é poeta, escritor, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.
Foto destaque: medium.com