O carnaval é fundamental. Fiquemos em casa!
Enildo Luiz Gouveia*
Em 11.02.2021
Por ocasião da passagem do Dia do Frevo celebrado todos os anos no dia 09/02, anteontem, acordei com saudade daquilo que não viverei neste ano. Em artigo publicado neste blog eu perguntei se estaríamos presos em 2020, visto que em 2021 não teremos carnaval. O carnaval em Recife tem tons líricos, saudosistas mesmo com a festança. Imagine agora, sem a alegria do frevo e dos maracatus, sem o colorido das ruas.
Todos os anos, apesar de não ser um folião raiz, cumpro religiosamente uma maratona: bloco Café Cuado, Baile Municipal do Recife, Carnaval do Grito dos Excluídos, da Educação, ladeiras de Olinda e Bloco Atola. Depois, é só aguardar a Quarta-feira de cinzas e fechar o circuito no carnaval do Mercado da Boa Vista. “Ô, Ô Saudade, saudade tão grande…” já escrevia Antônio Maria em sua composição Frevo nº 1 do Recife.
Embora as pernas não obedeçam nem aguentem a puxada do frevo, adoro cantar e ver a autenticidade das pessoas espalhando alegria. O carnaval não é desperdício de dinheiro público como afirmam alguns. Segundo reportagem do site Poder 360, o país vai perder R$ 8 bilhões com o cancelamento do carnaval. O faturamento de empresas de turismo, eventos e cervejarias aumenta expressivamente durante os festejos de Momo. Isto gera emprego e renda.
Carnaval também não é pecado! Exageros existem em todos os lugares seja nas ruas ou nas Igrejas. Como diria o grande profeta e santo Dom Hélder Câmara, “O carnaval é a alegria popular”; ou como ouvi de um antropólogo certa vez: “O carnaval é uma utopia inacabada”. E o que é a utopia senão sonho? Se tirarmos o direito de sonhar e a alegria do povo o que lhe restará? Moacyr Franco, em um dos clássicos do carnaval, canta: “A nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo a dor”. O puritanismo não faz bem a ninguém e, na sua versão mais radical, provoca tortura e genocídio em nome de uma conversão desnecessária. Quem opta por ficar em casa, ótimo. Quem prefere os retiros, bom proveito. Mas, não queira impedir aquilo que é de mais bonito e criativo na pessoa: a sua Cultura.
A pandemia da Covid–19 nos obrigará a ficar em casa. A vida sofrida do nosso povo ganha ainda mais tom de tragédia. Mas, esperamos que seja apenas este ano. Fiquemos em casa! Aos que folgarão no período, façamos o carnaval do Isolamento (parece triste, mas pode ajudar). Que apenas a pandemia, e apenas neste ano, nos impeça de colocar o nosso bloco na rua. O carnaval é fundamental. Fiquemos em casa!
*Enildo Luiz Gouveia é professor do IFPE e membro da Academia Cabense de Letras. Escreve às quintas-feiras.
Foto destaque: Rádio Clube Joinvile
Sim, Enildo , fiquemos em casa!
Nesse momento com todo respeito a nossa cultura, o mais assertivo é brincar e se alegrar em casa e para aqueles que não tiveram feriado permanecerem em seus trabalhos. Boa reflexão!
Perfeito! 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾