Órfãos da folia

Por

Andréa Galvão*

Em 15.02.2021

“Oh Pandemia ingrata chegou de surpresa só pra nos limitar!” É parodiando o grande compositor de frevo Luiz Bandeira que começo a escrever essas bem traçadas linhas, com um nó na garganta.

O inimaginável aconteceu! O maior show da Terra foi adiado para 2022 e, como se não bastassem as rotas alteradas, as vidas perdidas, ficamos também sem a “Festa da Carne.” Aquela que nos faz esquecer as intempéries cotidianas por alguns dias.

O temível novo coronavírus esvaziou o sambódromo, cancelou o Circuito Barra-Ondina, bem como deixou ruas do Recife e ladeiras de Olinda na mais completa solidão.

E Pesqueira? Houve por aqui um estrago sem precedentes. A efervescência do melhor Carnaval do interior hoje inexiste. Os clarins que anunciam o reinado de Momo foram silenciados. Praça Dom José Lopes e Baixa de São Sebastião, agora desertas. Os estandartes das irreverentes agremiações continuam guardados.

Os Caiporas não podem andar por aí com suas cabeçorras de estopa a nos alegrar. Não tem mela-mela, marchinhas, banho.

O bloco mais aguardado do domingo, o Lira da Tarde, também não desfilou. “É o Lira, é o Lira, é o Lira. É o Lira da Tarde a todo vapor…” Os versos de Cláudio Almeida não saíram da boca de Sérgio Amaral. Eles agora fazem eco no nosso coração e as lágrimas vertem.

Apesar dessa melancolia toda e que há dias faz morada em nós, a razão nos aconselha que é melhor ficarmos órfãos da folia do que adoecer e perder a vida, pois dela precisamos para brincar outros carnavais. Prevenindo e remediando, lá vamos nós! Torcendo pela chegada da vacina e pelo grande retorno da alegria de viver.

*Andréa Galvão é professora de Língua Portuguesa e Arte no Colégio Santa Dorotéia, revisora ortográfica e redatora. É membro da Sociedade dos Poetas e Escritores de Pesqueira e da Academia Pesqueirense de Letras e Artes.

Foto destaque: Heloísa Ferreira