Um ativista é morto a cada oito dias no Brasil, diz relatório da ONU
Mariana Lima/Observatório do 3º Setor
Em 19.02.2021
Entre 2015 e 2019, 174 ativistas brasileiros foram assassinados. Número representa mais de 10% de todos os casos registrados pela ONU no período
De acordo com um levantamento do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, 174 ativistas brasileiros foram executados entre 2015 e 2019.
Com este número o Brasil ocupa a segunda posição no ranking geral, superando a situação nas Filipinas, com 173 assassinatos. O Brasil só fica atrás da Colômbia, que soma 397 assassinados em meio a uma crise entre paramilitares, governo e ex-guerrilheiros.
De modo geral, os dados revelam que um ativista brasileiro foi morto a cada oito dias e que o país é responsável por mais de 10% de todos os assassinatos desses indivíduos no mundo ao longo do período avaliado.
O documento ainda revela que a entidade registrou, no mundo, 1.323 mortes de defensores dos direitos humanos. No total, foram 45 lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e defensores intersexuais mortos entre 2015 e 2019.
Neste período, a região da América Latina e do Caribe registrou o maior número de defensores assassinados, com 993 do total de 1.323 mortos registrados.
De acordo com a ONU, 2019 foi o ano mais violento do período analisado, com 281 assassinatos pelo mundo. A entidade ressalta que existe um problema profundo de subnotificação e que o número real pode ser ainda maior.
É destacado que alguns defensores dos direitos humanos que atuam em questões especificas parecem ser particularmente vulneráveis a ataques, como os ambientalistas.
Em 2019, uma em cada duas vítimas de assassinatos estava trabalhando com comunidades em torno de questões de terra, meio ambiente, impactos das atividades comerciais, pobreza e direitos dos povos indígenas, afrodescendentes e outras minorias.
Também é destacada a falta de proteção do Estado às lideranças comunitárias ameaçadas, apesar de haver programas que visam garantir a vida desses defensores de direitos humanos.
Como exemplo, o documento cita o caso do cacique Babau, no Brasil. Em 29 de janeiro, o líder indígena recebeu informações de uma fonte confidencial sobre um plano para assassiná-lo junto com outros quatro parentes.
Mesmo tendo sido incluído formalmente no programa do governo para a proteção dos defensores dos direitos humanos, ele ainda enfrenta ameaças severas e nenhuma investigação foi aberta sobre as supostas ameaças de assassinato.
Fonte: Coluna de Jamil Chade no UOL
Foto destaque: Tânia Rêgo/Agência Brasil