As narrativas do silêncio

Por

Jairo Lima*

Em 09.04.2021

A internet não veio apenas para transformar as relações de consumo; não se resume a facilidade de encontros e reencontros; não apenas modernizou as formas de ensino. Mesmo sendo palco para tantas quebras de paradigmas e costumes, mesmo provocando tantos barulhos sociais, ela provocou um forte silêncio, um silêncio ainda muito desconhecido, mas com força capaz de promover grandes transformações, sobretudo no campo das ideias e dos ideais políticos.

Há uma corrente que passa por debaixo da ponte das exaltações, um fluxo de narrativas que driblam as mídias e os meios de comunicação tradicionais. A audiência dos canais abertos de TVs por exemplo, caiu 17% no século 21, e com isso as pessoas vão se desplugando das narrativas tradicionais que, aqui e ali, unicamente apenas servem a um propósito não coletivo amplamente. O que representa, na verdade, uma grande liberdade, uma alforria moderna.

Por debaixo dos birôs dos CEO ‘s das grandes empresas de comunicação, das ditas cabeças pensantes da política, dos assessores engravatados, circulam redes de pensamentos não detectados pelos radares de pesquisas ou qualquer outro instrumento de aferição que se proponha se aventurar captar com segurança, hoje, um sentimento popular. É o fim da era dos gurus!

É como se vivêssemos com um mundo paralelo ainda enigmático. Uma narrativa criada hoje no universo conhecido, amanhã já não tem mais validade nesta outra dimensão das relações sociais, criando, assim, as surpresas. As redes sociais, hoje, têm um poder que nenhum outro poder tem, mas, como em toda liberdade, é preciso vigilância e serenidade. Pelas redes sociais a maldade também já viu um nicho peculiar para atuar.

As manipulações estão a caminho da guilhotina e não adianta encher a internet com propagandas diretas ou disfarçadas, achando ser isso o pulo do gato. As narrativas que agora o próprio povo cria parecem ser imunes ao vírus da esperteza.

*Jairo Lima é poeta, artista plástico e membro da Academia Cabense de Letras.