Quatro em cada cinco países investem menos de 1% do PIB em pesquisa científica, revela relatório da UNESCO
UNESCO*
Em 13.06.2021
Os gastos com ciência em todo o mundo aumentaram 19% entre 2014 e 2018, assim como o número de cientistas, que cresceu 13,7%. Essa tendência foi ainda mais impulsionada pela crise da COVID-19, como revela o novo Relatório de Ciência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) “A Corrida Contra o Tempo por um Desenvolvimento Mais Inteligente: Visão Geral e Cenário Brasileiro”. Publicado a cada cinco anos, o relatório fornece uma visão geral da ciência e da política científica.
O documento avalia que, apesar de os números indicarem um movimento de valorização da ciência a um nível global, eles escondem disparidades significativas. Apenas dois países, os Estados Unidos e a China, respondem por quase dois terços desse aumento (63%), enquanto quatro em cada cinco países estão muito atrás, investindo menos de 1% de seu PIB em pesquisa científica. O cenário científico, portanto, permanece em grande parte como um cenário de poder.
Principais indicadores – Inteligência artificial e robótica são campos particularmente dinâmicos, de acordo com o Relatório, que observa que quase 150.000 artigos foram publicados sobre esses assuntos apenas em 2019. A pesquisa em inteligência artificial (IA) e robótica cresceu em países de renda média baixa, que contribuíram com 25,3% das publicações neste campo em 2019, em comparação com apenas 12,8% em 2015. Nos últimos cinco anos, mais de 30 países adotaram estratégias específicas, entre elas China, Rússia, Estados Unidos, Índia, Maurício e Vietnã.
Campos pouco explorados – Outros campos de pesquisa, considerados essenciais para o nosso futuro, atraem investimentos significativamente menores. Em 2019, por exemplo, as pesquisas sobre captura e armazenamento de carbono geraram apenas 2.500 artigos, 60 vezes menos que a inteligência artificial. Na verdade, as pesquisas sobre o assunto estão diminuindo em seis dos dez países que lideram as pesquisas nessa área (Canadá, França, Alemanha, Holanda, Noruega e o líder atual, Estados Unidos). Da mesma forma, o campo da energia sustentável permanece pouco explorado, representando apenas 2,5% das publicações globais em 2019.
Há um longo caminho a percorrer antes que a ciência contribua com todo o seu potencial para o desenvolvimento sustentável.
O mundo deve se concentrar em fornecer à ciência as ferramentas de que ela precisa. Conforme destaca a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay,
“uma ciência mais bem dotada é indispensável. A ciência deve se tornar menos desigual, mais cooperativa e mais aberta. Os desafios de hoje, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, declínio da saúde dos oceanos e pandemias, são globais. É por isso que devemos mobilizar cientistas e pesquisadores de todo o mundo”.
Acesso aberto – Embora a cooperação científica internacional tenha aumentado nos últimos cinco anos, o acesso aberto ainda se aplica a apenas uma publicação em quatro. Além disso, apesar do tremendo ímpeto coletivo gerado pela luta contra a COVID-19, muitos obstáculos se interpõem no caminho do acesso aberto à pesquisa em grande parte do mundo.
Por exemplo, mais de 70% das publicações permanecem inacessíveis para a maioria dos pesquisadores. O Relatório documenta os esforços para quebrar essas barreiras, que são fontes tanto de desigualdade quanto de ineficiência. Novos modelos de circulação e difusão do conhecimento científico na sociedade devem ser implantados.
Luta pela ciência transparente – A UNESCO vem trabalhando nisso desde 2019, quando começou a preparar um instrumento de definição de padrões globais para a ciência aberta. Se for adotada na próxima Conferência Geral da Organização em novembro de 2021, a Recomendação fornecerá à comunidade internacional uma definição e estrutura compartilhadas para desenvolver a ciência transparente, inclusiva e eficaz de que o mundo precisa.
Desequilíbrio de gênero – O Relatório também destaca a importância da diversidade na ciência; o desenvolvimento desta disciplina crítica deve envolver toda a humanidade. Ele aponta que apenas um terço dos pesquisadores no mundo são mulheres. Embora a paridade tenha quase sido alcançada nas ciências da vida, ainda está muito longe em muitos setores de crescente importância. Por exemplo, as mulheres representam apenas 22% da força de trabalho na área de inteligência artificial. Este é um problema não só de hoje, mas também de amanhã. Não podemos permitir que as desigualdades da sociedade sejam reproduzidas ou ampliadas pela ciência do futuro.
A ciência deve unir toda a humanidade para enfrentar os desafios de hoje e de amanhã. O Relatório pede a restauração da confiança pública na ciência e nos lembra que a ciência de hoje contribui para moldar o nosso futuro, razão pela qual é essencial priorizar o objetivo comum da humanidade de sustentabilidade por meio de uma política científica mais atuante.
Sobre o Relatório – A cada cinco anos, o Relatório de Ciência da UNESCO fornece uma atualização das tendências na governança na área de ciência. Escrito por 70 autores de 52 países, ele agrega dados sobre gastos, pessoal, publicações científicas e patentes. A última edição acompanha o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030 e o rápido progresso da Quarta Revolução Industrial. Ele também acompanha o impacto da pandemia de COVID-19 na pesquisa e inovação globais.
Para ler o relatório na íntegra, acesse aqui.
Foto destaque: Science in HD/Unsplash – Apenas um terço dos pesquisadores no mundo são mulheres