Geração Flocos de Neve

Jénerson Alves*

Em 06.08.2021

Os flocos de neve representam beleza e pureza, mas também fragilidade. E é com este último atributo que professores de universidades como Oxford, Yale e Cambridge comparam a geração de pessoas que atingiram a idade adulta na década de 2010. Segundo eles, a Geração Flocos de Neve é formada por gente muito sensível e pouco resiliente.

Com todo respeito à observação dos especialistas, tomo a liberdade de propor um outro olhar. A geração atual passa por tantas dificuldades como foram as gerações anteriores. A alma humana é muito complexa, quer seja a de Camões ou a de um jovem contemporâneo. Recordo-me de um soneto de Diniz Vitorino que expressa bem a nossa finitude e pequenez:

Mero engano

Eu pensei na jornada terrenal
Ser gigante de porte inabalável,
Sou ínfima partícula universal,
Corpo crespo, a mazela vulnerável.

Estrutura de carne fraca, igual
A qualquer pestilento miserável
Que no lodo da tumba sepulcral
Se desfaz como um rato detestável.

Oriundo do ventre sem vigor
Da mulher que, apesar de dar-me amor,
Me aquecendo nos seios maternais

Foi gerada também de pais plebeus
Sem querer infiltrou nos órgãos meus
As viroses que herdou dos ancestrais.

Tais ‘viroses’ podem ser compreendidas como as mazelas do pecado que habita em cada um de nós. Ao contrário do aspecto agridoce apresentado pela mídia; sob uma perspectiva filosófica e teológica, o ‘pecado’ tem íntima relação com a condição humana. Após a queda, a compreensão do mundo passou a ser velada ao ser humano. Angústia e deslocamento são marcas presentes na alma de todos, independentemente de classe, origem ou quaisquer outras distinções sociais. Junto a essa incompletude, há uma sede de Beleza. Esta é uma das três propriedades transcendentais do ser, isto é, o pulchrum, o verum e o bonum. A Beleza é a porta de entrada para a contemplação das coisas celestes – a Verdade e a Bondade.

Neste cenário, convém refletir sobre outro significado dos flocos de neve: o renascimento. Quando desce à terra, a neve torna a terra com aparência limpa e fresca. Essa fusão pode apontar para novos começos. Assim como as gerações anteriores, a Geração Flocos de Neve precisa de experiência com as coisas belas. Para tanto, é preciso resgatar o aspecto espiritual da humanidade, que tem sido maculado pelas ideologias e pelo materialismo. Esse contato com a Beleza nos fará enxergar para além da própria natureza e adentrar na natureza superior.

Jénerson Alves é jornalista e membro da Academia Caruaruense de Literatura de Cordel. Escreve às sextas-feiras.

Foto destaque: Pexels/Pixabay.