Pesquisa revela causas e impactos da evasão escolar de meninas e jovens mulheres no Cabo

Por

Redação

Em 29.03.2022

Estudo foi realizado pelo Centro das Mulheres do Cabo (CMC,) com apoio do Fundo Malala
Um estudo que traça o perfil das adolescentes e jovens mulheres fora da escola no Cabo de Santo Agostinho (PE) e que revela as causas e os impactos da evasão escolar será lançado hoje (terça 29), às 14h, no auditório da Prefeitura da cidade. Realizado pelo Centro das Mulheres do Cabo (CMC), com apoio do Fundo Malala, o Diagnóstico Participativo sobre a Evasão Escolar das Meninas e Jovens Mulheres do Cabo apresenta recomendações para prevenir a evasão e orientar a busca ativa para o retorno à sala de aula, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio, considerando, o contexto da pandemia de Covid-19.
Segundo a pesquisa, um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19.  37,5% das entrevistadas deixaram de estudar devido à falta de celular com internet, o que as impediu de acompanhar as aulas virtualmente.

A gravidez precoce aparece entre as principais causas de abandono escolar. Das meninas entrevistadas, 14,6% tiveram que trabalhar para gerar renda para a própria subsistência e de suas famílias. A interrupção das aulas presenciais foi avaliada como muita negativa pelas meninas: 95,2% delas desejam voltar às aulas presenciais. Para 40% das entrevistadas, as escolas não ofereceram a estrutura necessária para garantir segurança sanitária no contexto de pandemia.

“As meninas e jovens mulheres sofreram mais do que os meninos e rapazes jovens na pandemia, porque o trabalho doméstico, de cuidar da casa e das pessoas idosas, com deficiência ou doentes, recai sobretudo sobre as mulheres que estavam em casa. Ou seja, a pressão em cima dessas meninas e jovens mulheres foi muito maior, impactando negativamente o seu desempenho escolar e levando muitas delas a abandonarem a escola”, explica a integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil, Cássia Jane, que coordenou a pesquisa aplicada nos diversos bairros do município de Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana de Recife.

O diagnóstico, protagonizado e conduzido por meninas e jovens mulheres cabenses, é parte do projeto “Meninas em Movimento pela Educação”, realizado pelo Centro das  Mulheres do Cabo com o apoio do Fundo Malala. O projeto dá suporte a cerca de 90 meninas para atuarem como ativistas por melhores condições nas escolas públicas em que estudam e a se engajarem na promoção da igualdade de gênero no ambiente escolar. Entre os objetivos do projeto estão identificar as causas e combater a evasão escolar, além de implementar um plano para aprimorar as políticas públicas relacionadas à promoção do direito à educação de meninas e jovens mulheres do município, com foco em igualdade de gênero e raça.

Pesquisas globais do Fundo Malalala mostram que o aumento das taxas de pobreza, responsabilidades domésticas, trabalho infantil e gravidez na adolescência afetaram desproporcionalmente a capacidade das meninas de aprender durante a pandemia, impedindo o retorno delas à escola.

Depoimento de menina

Das 96 meninas e jovens entrevistadas, 72,9% residem em oito bairros e comunidades do Cabo de Santo Agostinho: Vila Claudete, Bairro São Francisco, Nova Tatuoca, Gaibu, Engenho Mercês, Enseada dos Corais, Alto da Bela Vista e Cidade Garapu. A pesquisa também foi realizada com os/as gestores/as das escolas públicas, profissionais de saúde e conselheiros/as tutelares.

Sobre a Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala

Inspirado pelas raízes de Malala e Ziauddin Yousafzai como ativistas locais no Paquistão, o Fundo Malala estabeleceu em 2017 a Rede de Ativistas pela Educação (Education Champion Network) para investir, apoiar o desenvolvimento profissional e dar visibilidade ao trabalho de mais de 80 educadores de oito países que trabalham a nível local, nacional e global em defesa de mais recursos e mudanças políticas necessárias para garantir educação secundária a todas as meninas. O Fundo Malala apoia educadores no Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia. No Brasil, a Rede é formada por 11 educadoras e educadores dedicados a construir esforços coletivos pela educação escolar de qualidade nas regiões do país onde a maioria das meninas não frequenta o ensino secundário, com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas. (Com informações da Assessoria de Imprensa do Centro das Mulheres do Cabo).