CEPAL prevê retrocesso de 10 anos nos níveis de renda por habitante na América Latina e Caribe

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Agência CEPAL

Em 16.07.2020

Moradora da Vila Kennedy, no Rio de Janeiro (RJ), recebe doação de sabonete para ajudar na prevenção contra o novo coronavírus – Foto: Carol Du Pre/arquivo pessoal

A atividade econômica global está recuando mais mais do que o previsto há alguns meses, como consequência da pandemia de COVID-19. Com isso, aumentam os impactos externos negativos na América Latina e no Caribe por meio do comércio, dos termos de troca, do turismo e das remessas. A região se encontra hoje no epicentro da pandemia e, enquanto alguns governos começaram a reduzir as medidas de contenção, outros tiveram que continuar ou até intensificá-las, devido ao aumento persistente dos casos diários da doença.

A conclusão é de Relatório especial COVID-19 N⁰ 5 da CEPAL, intitulado: Enfrentar os efeitos cada vez maiores da COVID-19 para uma retomada com igualdade: novas projeções, que foi apresentado nesta quarta-feira,  (15) pela secretária-executiva do organismo regional das Nações Unidas, Alicia Bárcena, em coletiva de imprensa virtual realizada de Santiago, Chile.

Segundo o relatório, dado que tanto o choque externo como o interno se intensificaram, a região apresentará uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 9,1% em 2020, com diminuições de 9,4% na América do Sul e de 8,4% na América Central e México. O Caribe terá uma queda de 7,9%, excluindo a Guiana, cujo forte crescimento leva o total sub-regional a uma menor contração (de 5,4%).

O documento lembra que a queda na atividade econômica é de tal magnitude que fará com que, até o fim do ano, o nível do PIB per capita da América Latina e Caribe seja similar ao observado em 2010. Ou seja, haverá um retrocesso de 10 anos nos níveis de renda por habitante.

“Agora é esperado um aumento também maior do desemprego, o que por sua vez provocará uma deterioração importante nos níveis de pobreza e desigualdade”, afirmou Alicia Bárcena em sua apresentação.

A previsão é de que a taxa de desemprego regional fique em torno de 13,5% no fim de 2020, o que representa uma revisão para cima (2 pontos percentuais) da estimativa apresentada em abril e um aumento de 5,4 pontos percentuais em relação a 2019 (8,1%).

Na nova estimativa, o número de desempregados deve chegar a 44,1 milhões de pessoas, o que representa um aumento de quase 18 milhões em relação a 2019 (26,1 milhões de desempregados).

Esses números são significativamente maiores do que os observados durante a crise econômico-financeira global da década passada, quando a taxa de desemprego passou de 6,7% em 2008 para 7,3% em 2009 (0,6 ponto percentual), indica o relatório.

A queda de 9,1% do PIB regional e o aumento do desemprego terão um efeito negativo direto sobre a renda familiar e sua possibilidade de contar com recursos suficientes para atender às necessidades básicas.

Nesse contexto, a CEPAL prevê que o número de pessoas em situação de pobreza aumentará em 45,4 milhões este ano, passando de 185,5 milhões em 2019 para 230,9 milhões em 2020, número que representa 37,3% da população latino-americana e caribenha.

Dentro desse grupo, o número de pessoas em situação de extrema pobreza aumentaria em 28,5 milhões, passando de 67,7 milhões de pessoas em 2019 para 96,2 milhões de pessoas em 2020, número que equivale a 15,5% do total da população.

A CEPAL também projeta uma maior desigualdade na distribuição de renda em todos os países da região: o índice de Gini deve aumentar entre 1% e 8% nos 17 países analisados, e os piores resultados são esperados nas maiores economias da região.

O documento lembra que os países da região anunciaram grandes pacotes de medidas fiscais para enfrentar a emergência sanitária e mitigar seus efeitos socioeconômicos. Além disso, a magnitude da atual crise levou as autoridades monetárias a incluir ferramentas convencionais e não convencionais em suas ações.

As ações dos bancos centrais da região foram encaminhadas não somente para atenuar os efeitos da crise e estabelecer as bases para uma possível retomada, mas também para preservar a estabilidade macro-financeira das economias.

“Embora os países da região tenham anunciado medidas muito importantes, à medida que o confinamento se estende são necessários esforços adicionais para satisfazer as necessidades básicas e sustentar o consumo das famílias”, disse Bárcena.

A CEPAL tem apresentado várias propostas, incluindo a implementação de uma renda básica de emergência como instrumento de proteção social, um bônus contra a fome – equivalente a 70% de uma linha regional de extrema pobreza (67 dólares de 2010) e cujo custo total é estimado em 27,1 bilhões de dólares (0,52% do PIB regional), e várias iniciativas para apoiar empresas e trabalhadores em risco.

“Para a implementação de qualquer uma dessas linhas de ação, é necessário fortalecer o papel das instituições financeiras internacionais de forma que possam apoiar melhor os países”, enfatizou Bárcena.

“Os esforços nacionais devem ser apoiados pela cooperação internacional para ampliar o espaço de política por meio de maior financiamento em condições favoráveis e alívio da dívida. Além disso, avançar na igualdade é fundamental para o controle eficaz da pandemia e para uma recuperação econômica sustentável na América Latina e no Caribe.”