Ex-diretor do Inpe exonerado por Bolsonaro ganha prêmio internacional de liberdade científica
Redação, com Observatório do Clima
Em 11.02.2021
O professor titular da USP (Universidade de São Paulo) e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Ricardo Galvão foi agraciado ontem com o prêmio 2021 de Liberdade e Responsabilidade Científica da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS). A honraria é concedida a cientistas que demonstram liberdade científica e/ou responsabilidade em circunstâncias particularmente desafiadoras, às vezes pondo em risco sua segurança profissional ou física.
O professor foi exonerado do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) durante o governo Bolsonaro por ter alertado sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Ante o ataque do presidente Jair Bolsonaro que questionou a legitimidade de dados do Inpe que mostravam o aumento dramático no desmatamento na Amazônia, Galvão defendeu os números.
“O professor Galvão defendeu a ciência sólida em face da hostilidade”, disse Jessica Wyndham, diretora do Programa de Responsabilidade Científica, Direitos Humanos e Direito da AAAS. “Ele agiu para proteger o bem-estar do povo brasileiro e da imensa maravilha natural que é a floresta amazônica, um patrimônio mundial.”
Galvão entrou no Inpe em 1970 e cumpriria mandato até 2020. Em julho de 2019, no entanto, ele começou a ser atacado pelo presidente, que o acusou de mentir e estar “a serviço de alguma organização não governamental”, após o Inpe ter publicado um relatório mostrando que houve um aumento de 88% no desmatamento na Amazônia em comparação com o ano anterior. O relatório citou uma possível ligação entre a eleição de Bolsonaro e o aumento pronunciado da degradação da terra.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem reputação internacional como líder no uso de satélites para detectar extração ilegal de madeira e queimadas em florestas tropicais. O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) da agência pode detectar o desmatamento ilegal com rapidez suficiente para dar às autoridades policiais a chance de pará-lo.
Desde sua saída do INPE, o professor não para de se pronunciar contra o que considera a hostilidade de Bolsonaro em relação à ciência. Um artigo da revista científica Nature o nomeou uma das “dez pessoas mais influentes na ciência em 2019”.
A cerimônia de premiação, que ocorre desde 1980, foi realizada de forma virtual durante a 187ª Reunião Anual da AAAS. Em resposta ao anúncio do prêmio, Galvão publicou um texto de agradecimento:
“Estou profundamente grato à American Association for the Advancement of Science por me conceder o Prêmio de Liberdade Científica e Responsabilidade. Como latino-americano, receber este prêmio é bastante significativo não só para mim, mas também para muitos outros companheiros cientistas que, em diversas ocasiões, reagiram bravamente a políticas negacionistas de poderosos líderes políticos em relação à preservação da floresta amazônica. Muito obrigado”.