Na ONU, Estados Unidos marcam regresso oficial ao Acordo de Paris
ONU News
Em 20.02.2021
Enviado presidencial especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, participou na sessão; secretário-geral disse que “elo perdido enfraquecia o todo” durante ausência norte-americana do tratado; Guterres destaca recuperação da pandemia como oportunidade para retoma mais robusta da ação climática.
Os Estados Unidos marcaram seu retorno oficial ao Acordo de Paris em cerimônia realizada esta sexta-feira na ONU. A decisão foi tomada após a posse do presidente Joe Biden, em 20 de janeiro, em ordem executiva iniciando o processo de 30 dias.
Com a saída norte-americana do tratado, formalizada no ano passado, o país foi o primeiro e único a desistir do acordo global adotado em 2015.
Esperança
Para o secretário-geral das Nações Unidas, o regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris marca “um dia de esperança”. Falando na sessão, António Guterres considerou que o ato é “uma boa notícia” para o país e para o mundo.
No evento virtual participou o enviado presidencial especial dos EUA para o Clima, John Kerry. O chefe da ONU destacou que a ação dele “se reflete no acordo histórico” e recordou que em 2016 o representante assinou o tratado com sua neta.
Para o enviado especial, limitar um aumento na temperatura média global a não mais do que 1,5 graus Celsius é crítico e “qualquer coisa além disso terá implicações catastróficas ao redor do globo”.
O secretário-geral ressaltou que o pacto envolve descendentes da geração atual e toda a família humana. Ele recomendou que haja mais rapidez e ambição para lidar com a crise que chamou a “corrida de nossas vidas”.
Guterres disse que ainda está ao alcance do mundo construir um futuro de energia renovável e infraestrutura ecológica que proteja às pessoas e ao planeta, além de garantir prosperidade para todos.
Elo perdido
Para o chefe da ONU, a ausência de “um ator-chave criou uma lacuna no Acordo de Paris” nos últimos quatro anos, no que foi “um elo perdido que enfraquecia o todo”.
António Guterres realçou que a reentrada norte-americana, na íntegra, está de acordo com os criadores do pacto. Mas apontou que os compromissos assumidos até agora não são suficientes e nem têm sido cumpridos.
Para o secretário-geral, se não houver uma mudança o mundo poderá enfrentar um aumento catastrófico de temperatura de mais de 3 graus neste século. Guterres apontou que 2021 será um ano crucial para lidar com esse aspeto.
Futuro
O discurso destacou ainda a Cúpula do Clima da ONU, COP26, em Glasgow, como decisiva. A expectativa é que os governos apresentem decisões que determinarão o futuro das pessoas e do planeta nesta conferência.
Guterres apontou o papel determinante dos Estados Unidos, juntamente com todos os membros do G20, para a realização de três objetivos principais definidos pela comunidade internacional.
Como a grande prioridade, o secretário-geral apontou a visão de longo prazo para se “criar um ambiente verdadeiramente global”, com uma coalizão em favor de emissões líquidas zero até 2050. Sobre o tema, a expectativa da ONU é que o governo norte-americano se associe ao grupo.
Em segundo lugar, o líder da ONU disse que na próxima década espera que todos os governos apresentem planos nacionais concretos mais ambiciosos e credíveis para o período.
Por fim, o representante lembrou a urgência dessas ações. O momento de recuperação da pandemia é para ele “uma oportunidade para recuperar de forma mais robusta e melhor”.
Entre as metas citadas no discurso estão a eliminação progressiva do carvão, o apoio de uma transição justa, com treinamento e oportunidades para pessoas cujos empregos serão impactados pela medida.
Guterres apontou ainda o fim de investimento em projetos de combustíveis fósseis pelo seu impacto negativo na saúde das pessoas, na destruição da biodiversidade e contribuição para a crise climática. Outra meta é a promoção de impostos sobre emissões de carbono.
Ação global
Antes do evento na ONU, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, realçou que o Acordo de Paris é uma “estrutura sem precedentes para uma ação global”. Ele lembrou que seu país ajudou a conceber o tratado e a torná-lo uma realidade.
O chefe da diplomacia norte-americana declarou que tal como na adesão do país ao acordo em 2016, agora, no seu retorno, “o mais importante ainda serão as ações para as próximas semanas, meses e anos”.
Foto destaque: Unsplash/Matthew T. Rader –