Realizar o Censo é garantir que ninguém fique para trás

Por

Astrid Bant*

Em 15.05.2021

O Brasil tem enfrentado incertezas em relação à realização do Censo Demográfico. Como um parceiro histórico do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) na condução deste processo, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) defende a realização do recenseamento, que é fundamental para o desenvolvimento de qualquer país. O Censo garante que políticas públicas alcancem as pessoas que mais precisam e que ninguém seja deixado para trás. Ele é ainda mais necessário em um momento de pandemia, quando tantas novas prioridades se apresentam e ainda se apresentarão.

O que caracteriza um levantamento censitário é a sua abrangência universal, em contraposição aos levantamentos de base amostral, que não oferecem o mesmo nível de acurácia nas informações. Assim, ao abranger todas as pessoas, o Censo Demográfico possibilita que o país acesse informações sobre a composição da população, tais como a sua distribuição por sexo, idade, raça/cor e no território.

Informações coletadas no Censo possibilitam, ainda, calcular indicadores importantes como taxas de fecundidade, mortalidade e expectativa de vida. No que se refere à migração, o Censo Demográfico do Brasil prima pelo nível de informação para se conhecer esse fenômeno tão importante. Por meio de diferentes estratégias e suporte a políticas públicas, é a partir do levantamento que o país formula ações voltadas para estes grupos populacionais.

Estamos a menos de uma década do prazo para atingir os compromissos pactuados mundialmente na Agenda 2030, por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A Agenda 2030, estabelecida pelas Nações Unidas, propõe uma série de metas e indicadores em setores como saúde, educação, segurança e equidade de gênero para que os países possam avaliar sua caminhada rumo a um futuro mais sustentável, de paz e prosperidade. A avaliação do progresso desses e de muitos outros compromissos dependem direta ou indiretamente das informações coletadas pelo Censo Demográfico.

No mundo inteiro, o IBGE é uma referência na realização de censos demográficos e pesquisas. A instituição, inclusive, contribui com a capacitação de diversos países para prepará-los na coleta de dados censitários. Com o apoio do UNFPA Brasil, por exemplo, por meio do projeto Centros de Referência em Censos com coleta eletrônica, o IBGE capacitou Cabo Verde e Senegal para que apoiem outros países do continente africano a realizar censos com base na tecnologia brasileira.

No Brasil, o Censo Demográfico vem sendo realizado com periodicidade de dez em dez anos ininterrupta desde 1940, tendo ocorrido apenas o percalço do adiamento de um ano na década de 1990. Como em diferentes países do mundo, a pandemia de COVID-19 determinou a suspensão do levantamento censitário em 2020. Porém, um atraso muito grande na realização do Censo significaria correr o risco de deixar milhões na invisibilidade. O Censo Demográfico precisa, portanto, ser realizado o quanto antes.

O Fundo de População das Nações Unidas firmou recentemente uma nova parceria com o IBGE para trabalhar na modernização do recenseamento, de forma que ele seja feito da forma mais eficiente possível, considerando a pandemia. Ainda assim, a operação em campo continua sendo essencial e tem custos. Tais custos representam investimento absolutamente necessário se levados em consideração o tamanho e a complexidade do país. O investimento terá retorno por meio de políticas eficazes, de progressos no desenvolvimento socioeconômico e da redução das desigualdades sociais.

Conhecer e ter informações sobre o país será fundamental durante e após a pandemia da COVID-19. Somente com conhecimento será possível vislumbrar soluções, definir prioridades, encontrar o caminho para reconstruir o que for necessário —sem esquecer, sobretudo, as pessoas que mais precisam ser vistas. A informação é uma poderosa ferramenta de planejamento e também uma forma de garantir o futuro, salvar vidas e permitir o acesso a direitos para todos e todas.

*Astrid Bant é representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil.

Este texto não reflete necessariamente a opinião do blog Falou e Disse.

Foto destaque: Agência IBGE